segunda-feira, 24 de janeiro de 2005

chinesices

2046 – 2046 (uma das melhores traduções de sempre)


“There ain’t no cure for love”


Leonard Cohen é Deus. Acho que toda a gente sabe isto mas é bom sempre lembrar. É mais ou menos o equivalente em Portugal ao Vítor Espadinha. O “I’m your man” corresponde ao “Recordar é viver” mais compasso menos compasso. Mais banana menos banana. Mais “If you want a lover I'll do anything you ask me to And if you want another kind of love I'll wear a mask for you If you want a partner Take my hand Or if you want to strike me down in anger Here I stand I'm your man If you want a boxer I will step into the ring for you And if you want a doctor I'll examine every inch of you If you want a driver Climb inside Or if you want to take me for a ride You know you can I'm your man Ah, the moon's too bright The chain's too tight The beast won't go to sleep I've been running through these promises to you That I made and I could not keep Ah but a man never got a woman back Not by begging on his knees Or I'd crawl to you baby And I'd fall at your feet And I'd howl at your beauty Like a dog in heat And I'd claw at your heart And I'd tear at your sheet I'd say please, please I'm your man And if you've got to sleep A moment on the road I will steer for you And if you want to work the street alone I'll disappear for you If you want a father for your child Or only want to walk with me a while Across the sand I'm your man” menos “If you want a lover I'll do anything you ask me to And if you want another kind of love I'll wear a mask for you If you want a partner Take my hand Or if you want to strike me down in anger Here I stand I'm your man If you want a boxer I will step into the ring for you And if you want a doctor I'll examine every inch of you If you want a driver Climb inside Or if you want to take me for a ride You know you can I'm your man Ah, the moon's too bright The chain's too tight The beast won't go to sleep I've been running through these promises to you That I made and I could not keep Ah but a man never got a woman back Not by begging on his knees Or I'd crawl to you baby And I'd fall at your feet And I'd howl at your beauty Like a dog in heat And I'd claw at your heart And I'd tear at your sheet I'd say please, please I'm your man And if you've got to sleep A moment on the road I will steer for you And if you want to work the street alone I'll disappear for you If you want a father for your child Or only want to walk with me a while Across the sand I'm your man”. A essência é a mesma. São os dois uns românticos assim como eu. Com a pequena diferença de que eu sou capaz de admitir que gosto de barrar as gajas com manteiga de amendoim e depois pegar em pequenas tostas de centeio e rapar a cena de cima delas e eles, como têm o estatuto global de grandes românticos, não o podem fazer sem sofrer as consequências. Arrasar-lhes-ia as carreiras.
Isto tudo para dizer que até o Leonard Cohen tem uma música má. “There ain’t no cure for love”.
Este Wong Kar wai (um chinoca, lá da China) só tinha feito grandes filmes. Nunca percebi a cena do “Chungking Express” mas de qualquer modo é um bom filme. Adorei o “Anjos caídos”. É o filme com maior “cenário” da história. Quando se é chinês e se tem um “cenário” daqueles pode-se fumar e consumir drogas e andar de pistolas aos tiros aos outros chinocas porque, o mais provável, é um gajo safar-se sempre. Deus ajuda quem é giro e tem um “granda cenário”. Dá-lhes carros rápidos, cerveja gelada e miúdas aos gritos a correr atrás deles e a fazer *schlec* *schlec* com os lábios vaginais.
Depois veio o “In the mood for love”, que é um dos grandes filmes. O maior dele. E um gajo habitua-se. Tem o tempo exacto. Não se perde em pachachices (sim, vem de pachacha) desnecessárias. Não tem pausas nem tempos mortos. Extraordinariamente bem filmado, realizado e “argumentado”
São todos filmes sobre desencontros. Antes da era dos telemóveis. Caso contrário, bastava mandar uma sms.
Mais um momento e….Mas a verdade é que sabem ser filmes.
Qualquer filme dele que saia é, automaticamente, comparado a este. É como a minha pila. É o termo de comparação para qualquer homem (dum modo perfeitamente heterossexual – é como os jogadores de futebol, podem-se apalpar e mexer nos tomates uns dos outros que não há crise porque, como toda a gente sabe, não há paneleirices no futebol). Na natação chamavam-me tripé. E vai daí pensei: “epá, o 2046 deve ser enorme”. Só é enorme em termos de tamanho.
Nunca tinha saído dum filme do Wong Kar Wai desapontado (nota: isto não significa que eu alguma vez tenha “entrado” num filme dele. Aqui, “entrado” pode ter, pelo menos, dois significados. Apenas um deles é o correcto. Entrar como contrário de sair – quem sabe um pouco de física até diz logo que entrar e sair é a mesma coisa, tudo depende do referencial).
Ele é assim o maior e eu esperava que este filme fosse assim o “In the mood for love” com droga. Afinal foi assim como aqueles pratos que um gajo pede no restaurante chinês, quando um gajo está com fome, aquilo marcha tudo mas depois, mais lá para o fim da refeição, já ninguém consegue com o “calil de gálinhá” ou com o “polco doce” e só apetece vomitar e pensar porque é que não fomos jantar todos àquela tasca ao pé do elevador da Bica. A verdade é que só os pobres, como a maioria de vocês deve ser, é que vão comer aos restaurantes chineses. Eu deixei de ir quando enriqueci à custa do meu negócio de prostituição e depois de me ter apercebido que, em Portugal, não há chineses velhos. Tenho uma teoria sobre o assunto à espera de ser publicada numa revista da especialidade. (Contactem para o mail anq@portugalmail.pt, caso estejam interessados.)
Estas divagações todas são só para encher porque eu sei muito pouco de cinema e procuro disfarçar desviando a atenção do que realmente importa. Também porque tenho muitas ideias sobre coisas que gostaria de escrever e mostrar como tenho, de longe, o sentido de humor mais apurado de Portugal.
Sobre o filme pouco há a dizer. Os truques de câmara estão lá todos. Os cigarros a arder devagarinho. Os trade marks do costume do Wong. A certeza de que o Tony Leung nunca morrerá de cancro do pulmão (como é do conhecimento geral, só os falhados é que apanham cancro). As personagens “lynchianas” (<- sou o maior ou quê?). As chinesices. Mamas. E está todo o mood for love. Falta é coerência. Parecem bocados desconexos. E aquela coisa toda do comboio e da ficção científica é absolutamente pateta/patética.
Epá, se gostam do homem, vejam o filme mas depois não digam que não vos avisei.




2046 - :|

:O~ <- vómito (filmes tipo AI, Matrix 2 e 3)
:O <- filmes “preferia ter gasto a guita em cerveja, droga ou cigarros”
:| <- filmes “naquela”
:) <- filmes médio-fixe ou “nice”
:D <- filmes “cum gajo até acha que coiso e tal e diz aos outros para irem ver”
:D~ <- filmes que “sim senhoras”


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