segunda-feira, 10 de janeiro de 2005

e lá gastei eu dinheiro assim

Collateral – Colateral


Pisar pastilha elástica


O Tom Cruise irrita-me. Não é assim uma irritação muito grande porque eu até gosto dele como pessoa. É um gajo fixe. Deve curtir ver futebol na televisão (lá nas Américas deve corresponder ao baseball ou basket ou qualquer coisa que se veja por lá) enquanto bebe cerveja e, aposto que, mesmo não fumando, é daqueles que deixa o pessoal que está de visita fumar uns cigarrinhos. Aposto que se vivesse em Portugal (ele, não eu – eu vivo mesmo em Portugal – Lisboa e assim – bastava pensar “se ele anda no Técnico é porque deve ser de Lisboa ou perto) preferiria a Super Bock à Sagres. Seria do Sporting. Iria ao Bairro Alto e acabaria a noite numa daquelas roulotes a comer um mega-cachorro com “tudo”. Peidar-se-ia (já soube o nome deste tempo verbal mas esqueci-me) para os dedos e cheiraria e diria qualquer coisa do género: “couves”.
É o actor que me irrita. O sorriso. Ou dos óculos do Top Gun. Ou o casaco castanho. Mas é mais uma irritação como “pisar pastilha elástica”. Um gajo fica assim chateado mas não é o fim do mundo. Pega-se num pauzinho de gelado e facilmente se arranca a cena. É chato é o cheiro a mentol.
Eu faço um esforço por gostar dele. Em conversas de café até arrisco dizer que gostei do Magnólia. E que ele até vai muito bem nessa fita. Mas depois sorri (ele, não eu – é a cena com o pretérito imperfeito. Um gajo nunca sabe quem é que diz ou faz ou coiso – porque “coiso” aqui funciona como verbo). Ele tem grandes filmes. Assim como maus. Mas são os maus que fazem um gajo lembrar-se dos filmes maus. Quando saiu o Matrix 2 e o Matrix 3 já ninguém se lembrava que haviam uns irmãos com apelido judeu que tinham feito um bom filme chamado apenas Matrix.
Mas a cena sorriso…

O filme é assim ele a andar de táxi com um “chófer de praça” preto (Jamie Foxx <- os dois XX são tão à porno star) a fazer uns trabalhitos de limpeza (género a House Maid em Lisboa). Bom, é ele a fazer de mau contra outros ainda mais maus (e diz-se “mais maus” e não “piores” – porque antes de um adjectivo usa-se sempre “mais” ou “menos” – as coisas que vocês aprendem comigo). E mesmo com ele a fazer de mau um gajo torce pelos maus. Quer que ele acabe os “jobs” todos e desapareça no fim.
Quem não torceu pelo mau em “Os suspeitos do costume”? complicando, poder-se-ia escrever: “Quem não torceu pelo mau n’”Os suspeitos do costume”?”; mas seria um sarilho identificar as aspas e a outra cena que parece só uma aspa mas que não me lembro do nome.
O mesmo no Matrix? Pelo menos no 3 lembro-me de torcer pelo mau. A ver se o meu sofrimento finalmente acabava.
O mau, normalmente, é um tipo “cool”. Transpira charme. Respira estilo. Tem as patilhas bem aparadas. Tipo eu, mas em tela.

(basta meter um espaço e mudar de assunto)

Imaginei que aquilo tivesse um twist ou até um final soberbo. Mas não. Afinal há o bom. Que é o taxista. E salva o dia e fica com a miúda. Tipo eu, mas sem a parte de “ficar com a miúda”.

Parece-me que o realizador – ou qualquer responsável pela cena – não tiveram os tomates necessários para fazer deste um/o grande filme que tinha todo o potencial para ser. Final à Hollywood.
Quantas vezes se viu o Tom Cruise a perder?
Não me lembro de alguma vez ter sido o mau - ele, não eu.
Parece como naqueles jogos de cartas que aquele pessoal que demora 10 anos a fazer o curso joga na sala do fundo do pavilhão de civil.
Um gajo tem assim uma mega carta, que é o Tom Cruise, e pensa “epá, com esta carta é impossível perder”. Vai daí o outro joga o Jamie Foxx. Afinal até o Tom Cruise perde.
Desde o “Os intocáveis” que não tinha um choque deste género. “Afinal estes também se coisam”. Evitei dizer “morrem” para evitar que ficassem a saber o fim do filme.

Todos gostávamos de ser um mau como este. Ou isso ou ser o novo Futre. Mas para aqueles que tiveram a infelicidade, como eu, de não saber jogar lá muito bem à bola – embora já tenha marcado um canto directo – e viver assim muito longe de armas com silenciador, mais vale tirar mas é um curso.

A única grande cena do filme é passada numa discoteca. Até o gajo que estava ao meu lado – não é “paneleirices”, é só cena normal de dois gajos irem ao cinema (eu até costumava fazer “coisas” assim muito atrás no meu passado) – disse: “Este gajo é o rei.”. Sinceramente acho que sim. Ele podia ser o rei ao longo do filme inteiro. Mas quando o realizador é um “panhonha” e se vende à indústria o filme tem de acabar à “Hollywood”.

Parece a carreira do Tom Cruise. Tem grandes momentos mas depois aparecem coisas como o “Top Gun”, “Cocktail”, “Missão Intragável I e II e III e etc”, “Days of Thunder”. E não digam “ah e tal mas ele até tem filmes bons”. Pois tem. Mas é como quando o Jardel foi do Sporting. Um gajo ficava sempre com aquela coisinha no coração “epá, o gajo já foi do Porto”.






Collateral - :|

:O~ <- vómito (filmes tipo AI, Matrix 2 e 3)
:O <- filmes “preferia ter gasto a guita em cerveja, droga ou cigarros”
:| <- filmes “naquela”
:) <- filmes médio-fixe ou “nice”
:D <- filmes “cum gajo até acha que coiso e tal e diz aos outros para irem ver”
:D~ <- filmes que “sim senhoras”


2 comentários:

Anónimo disse...

apóstrofo

juvenal, o anormal disse...

"fónix"?