segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

"fónix man"

Life is a miracle – A vida é um milagre


O filme “Pearl Jam”


Inicialmente toda esta “coisa” ia ter apenas uma palavra:

Nhé.

Nhé define na perfeição o último filme do Kusturica. Ou como dizem os grandes: “o último Kusturica”. Mas depois o dono do site veio e disse: “ah e tal, isso não é uma crítica.”. E eu respondi-lhe: “ah e tal mas é o que eu achei do filme”. E vai daí ele diz: “ah e tal, assim não publico”. E eu respondi: “ah e tal”. E tive de ceder.
Pois é. Até nós, os bons, acabamos por ceder.
Reparem que ali na cena do “ah e tal” a vírgula nem é sempre repetida. Isto é um “neolostilo”, ou seja, uma figura de estilo inventada por mim e a que chamei “avirgulite”. Por sua vez, “neolostilo” e “avirgulite” são neologismos, que já existem há uns tempos.

Quem conhece Pearl Jam sabe perfeitamente que eles apenas têm um álbum. O primeiro. Depois os restantes não passam de repetições da mesma fórmula. Resulta sempre porque o gajo é giro e tem aquele ar porco que faz as miúdas ficar todas húmidas e ir logo a correr comprar o álbum. Hoje, felizmente, já pouca gente sabe quem são. Mas ali durante um período da década de 90 toda a gente gostava dos Pearl Jam. Os Smashing Punpkins são o paradigma da banda “Pearl Jam”. Têm um álbum e meras repetições.
Há n exemplos de cultura “Pearl Jam”.

O Kusturica corre o risco de tornar-se num realizador “Pearl Jam”. Repete a fórmula e espera que resulte. Mesmo que estivesse à espera que aqui no Ocidente algumas pessoas o conhecessem apenas pelo “Gato preto, gato branco”, há sempre que ter em conta os grandes cinéfilos de Portugal (o António Cabrita, o João Lopes, o Francisco Ferreira, aquele fulano que escreve no Jornal de Letras, o Fernando Alvim e eu) que já viram grande parte da sua filmografia mais acessível.
Em minha opinião, e já sabem que perante opinião alheia a minha é que conta, o melhor filme do Kusturica é o “Arizona Dream”. E é a partir desse filme que se faz a medição de todos os outros. Os outros são bons filmes, de um gajo que tem talento e sabe fazer umas coisas. Se calhar esteve demasiado tempo a entrar em “Ocean’s Eleven” e coisas do género. Não digo que tenha deixado de saber fazer filmes. O único caso reportado até hoje é o do Bryan Singer.
É a repetição de uma fórmula. A ver se dá. A ver se ainda consegue fazer as pessoas falarem “daquela comédia dos gatos que está agora no cinema”. Infelizmente falhou.
Não basta pegar em todos os elementos “engraçados” dos filmes anteriores, juntá-los no mesmo espaço de acção e esperar que resulte. É preciso muito mais. Originalidade e génio. E nenhum deles está presente aqui. Não aqui. Aqui está presente um génio. Eu. No filme é que não. Se fosse uma primeira obra ou uma coisa qualquer de um realizador pouco conhecido lá daqueles lados, talvez resultasse. Mas para Kusturica é muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito fraquinho.

A acção passa-se naqueles lados da Europa que não interessam a ninguém. Quem raio se lembra de chamar a um país Uzbequistão? Depois queixam-se que o resto da Europa só precise deles como mão de obra barata. Pá, precisam de emprego comprem o Expresso. Vão ao Centro de Emprego lá da zona deles. Tentem o de Tachkent (<- a quantidade de gajas a quem eu já perguntei isto). É como a cena da fome. Vêm sempre com aquela história da “fome em África”. “Ah e tal tenho fome”. Pá, têm fome vão ao café. Peçam um galão e uma sandes de queijo. Não digo que encha, mas pelo menos conforta.

Depois há guerra e tiros e uma gaja que gosta dum gajo mas que é casado com outra gaja e que canta mal que se farta e que são pais dum miúdo que joga bem à bola e que depois consegue um contrato com o Dínamo não-sei-de-onde ou o Estrela Vermelha do não-sei-que-mais e que depois é engenheiro (o pai do puto, não o Dínamo não-sei-de-onde ou o Estrela Vermelha do não-sei-que-mais <– isso são clubes de futebol) e constrói uma linha de comboio e depois há uns maus que fazem tráfico de “coisas” e depois durante a guerra passam armas dum lado para o outro e depois a linha fecha e depois a mulher foge de casa porque enlouquece e depois o tipo vai e arranja uma gaja nova do outro lado da cena com quem “eles” estão em guerra e enrola-se com ela por vales e colinas e rios e cataratas e casas no campo e depois a mulher fica boa e volta e não percebe muito bem o que se passa mas depois percebe logo de seguida e depois tem uma cena de pancadaria entre gajas (e só Deus sabe o que eu gosto de ver gajas à pancada) e depois uma foge e a outra fica e entretanto o filho que jogava futebol vai para a guerra e depois eles tentam trocar a gaja com quem ele se enrola pelo filho que foi feito prisioneiro mas afinal a miúda (a “enrolada”) não é duma família rica e não dá para trocar e eles continuam a enrolar-se e depois há um burro numa linha de comboio e depois há um comboio também e um presidente de câmara que é morto a tiro sem se perceber muito bem porquê e depois vem um urso e uma banda e há um espectáculo de inauguração duma linha e depois linhas de coca e carros que andam sobre carris e um baloiço e um rádio e boxe e um gato que come manteiga duma torrada e um homem dos correios e um jogo de xadrez e depois mesmo no fim do filme ela leva um tiro e ele ajuda-a mas depois como a guerra entretanto acabou vai um para cada lado e o filho regressa e ele finge que em vez de ir atrás dela ia só ter com o filho.

Nunca mais viu Molly.

Querem mais Kusturica que isto? Parecendo muito, é muito pouco.


A vida é um milagre - :O

:O~ <- vómito (filmes tipo AI, Matrix 2 e 3)
:O <- filmes “preferia ter gasto a guita em cerveja, droga ou cigarros”
:| <- filmes “naquela”
:) <- filmes médio-fixe ou “nice”
:D <- filmes “cum gajo até acha que coiso e tal e diz aos outros para irem ver”
:D~ <- filmes que “sim senhoras”


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