quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

a gorda e o rouxinol

Comme une image – Olhem para mim


“I don't want to talk to you no more, you empty headed animal food trough wiper. I fart in your general direction. Your mother was a hamster and your father smelt of elderberries.”

Ou seja, todos os franceses têm menos sentido de humor que uma lentilha. Uma lentilha, para quem não sabe, é uma planta cuja semente, do mesmo nome, é comestível. Dá para fazer sopa, salada, puré e mais outras coisas. É um bom substituto do feijão e do grão.
Não é que a lentilha tenha MESMO sentido de humor. É uma figura de estilo. É como dizer que os franceses não têm sentido de humor. Já me diverti mais em funerais do que a visionar as ditas “comédias francesas”. Se é que o termo existe. Agora vêm aí os teóricos do cinema e dizem coisas do género: “só tenho três palavras para ti: Jacques Tati”. São duas e não três. E além disso o Tati tem o sentido de humor dum agrião. Um agrião, para quem não sabe, é também uma planta comestível e também se pode fazer sopa com ele.

Eu era daqueles que pensava que o humor francês se resumia à frase lá de cima. Devo ter sido a pessoa, em Portugal, que mais filmes franceses viu e todos os que estão rotulados de “comédia” pouco ou nada têm. Ainda me lembro quando nos juntávamos todos em casa do António Cabrita a ler o Jornal de Letras, a visionar todos os director’s cut do Godard, a dizer de cor as primeiras cem páginas do “Assim falava Zaratustra”, a ouvir Xiu Xiu ou Cabaret Voltaire. Éramos levados da breca.

Bom, não é que isto seja assim um filme por aí além. É engraçado. Um gajo sai de casa assim com a maior ressaca de sempre e vai ver o filme e aguenta-se (<- tem muito que se lhe diga esta frase porque se a tentassem escrever de outra maneira, o sentido perder-se-ia – futuro do pretérito simples, no modo condicional com misóclise).
Também é outra cena um gajo ir ao King. Eu sempre que lá vou sinto-me muito mais esperto. É como se tudo se tornasse claro.

A verdade é que ninguém curte gordas. É como os carros. Qualquer gajo, desde que não seja bicha ou intelectual, gosta de Jaguares. E prefere-os às vans e àqueles carros horríveis que agora as famílias têm a mania de comprar para depois irem fazer “coisas” com outros “casais” também em família. Como ir à praia, ir passear para o “centro”, fazer churrascos, ir para o campo. E às gordas ninguém liga. É mais ou menos como a mim, mas comigo é inexplicável. Então ela é gorda e canta. Abro aqui um parêntesis -> ( :D para explicar que as gordas ou são boas a fazer “coisas” com a boca ou estão tramadas para a vida. É mais ou menos como ser gago e preto ou usar óculos e ser careca ou ser da LEIC.) <- fecho aqui um parêntesis.
Canta e espera a aprovação do pai que não lhe liga puto e é escritor e editor e desses gajos que usam camisas vermelhas com coletes escuros por cima. A verdade é que se eu fosse casado com um maquinão daqueles também não ligava puto às minhas filhas. Se as tivesse. Claro que para as ter é preciso primeiro arranjar uma gaja. E não vejo hipóteses de isso acontecer pelo menos nos próximos 6 meses. Voltando ao filme. A rapariga canta e o pai não lhe liga e é casado com um maquinão (e quem dava umas voltas com aquele maquinão sei eu quem era) com o/a qual tem problemas. Cenas da vida.
Ora a gorda, como não se safa de outra maneira, vai ter aulas de canto com a realizadora. É preciso uma sorte… é como um gajo chamar-se Schrödinger e ser ele a chegar à equação que também tem esse nome.
Depois aparecem as cenas do costume. A gorda gosta dum que é todo giraço mas que não gosta dela, é tudo interesse por o pai dela ser quem é. E depois há um gajo com mais pêlos nas pernas que o Tony Ramos tem no peito que gosta e sofre em semi-silêncio (como os verdadeiros perdedores). Entretanto, a professora de canto, que também é a realizadora, é casada com um tipo que eu já vi noutro filme (“The Good Thief”) e que é escritor. E quando a professora de canto, que também é a realizadora e argumentista, descobre que a gorda que canta é filha do outro gajo, que também escreveu o filme e que na vida real é casado com a gaja que faz de professora de canto e que também é realizadora e também escreveu o filme, começa logo a tratá-la doutra maneira. Aqui está a prova cabal de que as gajas não passam dumas interesseiras que só querem dinheiro e só fazem as coisas por interesse. Então decide que os ajudará a cantar lá na cena da igreja.
Depois o careca do “The Good Thief” é convidado pelo gajo que tinha bigode no “O gosto dos outros” – e que também é argumentista e é casado com a gaja que faz de professora de canto e que também escreveu e realizou o filme - a editar o seu próximo livro na editora dele. O gajo que já tinha entrado no “The Good Thief”, diz que sim e vão todos para o campo. No campo não se passa nada. E claro que o gajo com mais pêlos nas pernas que o Tony Ramos no peito decide ir também, à colas. No fundo é como ter um Tony Ramos pessoal a fazer de manta nas pernas.
Depois acontecem várias coisas que se está mesmo a ver que vão acontecer. Nada de novo. “estava mesmo a ver que ia acontecer”. Os franceses de inovador têm muito pouco. “Desisto” deveria ser o nome do seu hino nacional. A única guerra que alguma vez ganharam foi a revolução francesa. Isto diz muito.
Não correm riscos. Fazem a história que se espera, com o final que se espera, com as personagens estereotipadas que se espera, enfim… novamente, nada de novo. A única novidade deste filme é que me ri. Quase três vezes. Duas delas seguidas. Não cheguei ainda foi a largar uma pinga de mijo.

Não passa de uma remistura de “O gosto dos outros”. Mais moderno, mais maduro, mais europeu. Infelizmente continua a não chegar. Se não tivesse a fotografia, a luz, a realização e o à-vontade das personagens, diria que era um filme português.
Eu, se me pagassem para isso, escreveria assim a melhor comédia de sempre. Seria o Woody Allen português. Até adoptava uma chinesa. Ou pelo menos encomendaria chao min de galinha, uma vez por semana. Inscreveria o meu nome no passeio da fama. No meio dos grandes como o Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger. Seria grande.

Queria só voltar a falar do gajo dos pêlos nas pernas. Os homens, quando são muito magrinhos e têm assim muitos pêlos escuros e muito encaracolados nas pernas são irritantes.


Olhem para mim - :)

:O~ <- vómito (filmes tipo AI, Matrix 2 e 3)
:O <- filmes “preferia ter gasto a guita em cerveja, droga ou cigarros”
:| <- filmes “naquela”
:) <- filmes médio-fixe ou “nice”
:D <- filmes “cum gajo até acha que coiso e tal e diz aos outros para irem ver”
:D~ <- filmes que “sim senhoras”

3 comentários:

Anónimo disse...

abro a citação: "Queria só voltar a falar do gajo dos pêlos nas pernas. Os homens, quando são muito magrinhos e têm assim muitos pêlos escuros e muito encaracolados nas pernas são irritantes." (mas não a fecho, porque certamente haveria muito mais de onde isto veio)

como tens pouco de intelectual quer isso dizer que não gostas de jaguares pela razão que sobra?

æ

juvenal, o anormal disse...

adorava poder responder-te. mas nao percebi nada:|

juvenal, o anormal disse...

percebi agora! sabes... é que isto foi escrito há muito tempo já. e não sei de cor aquilo que escrevo. estás-me a chamar gay assim duma forma subtil. nao vou escrever mais sobre homens com muitos pêlos nas pernas porque parece que te incomoda e eu não quero voltar a ser alvo do teu escárnio.:|