segunda-feira, 24 de janeiro de 2005

os corta-unhas e outras homossexualidades

É das piores coisas que se podem partilhar. Imaginar que os outros cortaram os cantos gigantescos das unhas grandes do pé com o mesmo corta-unhas que vamos usar. E pior é cortar as unhas das mãos com um corta-unhas usado por outra pessoa para cortar as unhas dos pés. É interacção semi-erótica desfasada no tempo. “Eu dei-lhe uma massagem aos pés”. Não foi bem isso mas cortei as unhas das mãos com o corta-unhas que ela usou nos pés. Isto na rara possibilidade de eu alguma vez ter acesso a esse corta-unhas. É quase tão mau como a escova dos dentes. Mas enquanto partilhar a escova dos dentes até pode ser semi-erótico, se a gaja for boa e tiver mamas pelo umbigo e cuecas fio dental, partilhar o corta-unhas nunca o é. Nem que o fio seja dental à frente e atrás. Nem que só haja espaço no quarto para um devido à enormidade do seu mamedo. Há coisa que não devem ser partilhadas. Mas bater no fundo, é partilhar a pomada para os hemorróidas com aplicador. O caso do aplicador parece-me óbvio. Poderá quase ser homossexual. E se houver refluxo da pomada então o nível de gayzice torna-se máximo. Mesmo só a simples partilha do tubo de pomada torna-nos semi-homossexuais. Porque, seguindo a ordem normal das coisas, a aplicação de um creme anal será dedo-tubo dedo-esfíncter dedo-tubo dedo-esfíncter...Há novamente contacto anal com outra pessoa em tempos desfasados. Mas existe. Só na própria análise à próstata, devido à existência de luvas, e em parte pela bata também (“Está apenas a fazer o seu trabalho”, “Meter dedos no cú é o trabalho de qualquer proctologista”) é que o contacto pode não ser transformado num caso de homossexualidade séria.
Voltando um pouco atrás, que raio de médico escolhe como especialização proctologia? “Que faz na vida? Sou proctologista. Quê? Meto dedos no cú. No seu? Não. No dos outros.”.
A mim parece-me que certas especializações não se escolhem. Pediatra por exemplo. É sabido que estes puxam a pele do prepúcio para trás a crianças até aos 14 anos, toca-lhes de maneiras que devem ter levado muita gente dentro, metem-lhes um pauzinho na boca para espreitar e ver qualquer coisa com a lanterninha de bolso. Ginecologista (ou como vi escrito num hospital no Porto, “Coisas das mulheres”). O ginecologista passa o dia com os dedos “lá dentro”. Isso conta como infidelidade? Porque é que ele pode e eu não? “Hoje meti-os em onze gajas”, diz ele para os amigos. Os amigos invejam-no. Se algum for mecânico, quanto muito ouviu os peidos do bate-chapas durante o almoço enquanto comia a sandes de entremeada. O único sítio onde meteu os dedos foi numa lata de óleo para procurar parafusos.
Não deve haver profissões mais invejadas. O problema são as relações. “Cheiras a rata. Estiveste com outra?”. Há sempre desculpa. "Estive a fazer o meu trabalho".

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