sábado, 12 de fevereiro de 2005

sexta à noite de quem não tem gaja nem dinheiro

Vera Drake


O aborto

Antes de ir ao cinema já sabia que ia ver um filme sobre o aborto. “Mas o Paulo Portas entra?” – pergunta a minha enorme massa de fãs. Não. É sobre o aborto mesmo. A cena dos ferros e das raspagens e das bombinhas de borracha. Parece magia. Sobre as gajas que em vez de meterem um “conhé” de tripa de porco para evitar “cenas”, preferem fazê-lo como o acorde de Sol Maior <- esta piada é tão boa que me custa acreditar que fui eu que a criou. Aposto que ninguém vai perceber e depois vão todos dizer que não havia piada nenhuma e mais não sei o quê que se costuma dizer nestas situações em que alguém inventa uma piada que mais ninguém percebe.
Quando olhei para as personagens percebi porque, nalguns casos, sou a favor do aborto. São feios e enrugados e com riscos ao lado e brilhantina e fatos de camurça e aquele tecido às risquinhas em relevo que não sei bem o nome mas que todos os pobres usam e que estão comummente cheios de nódoas de esperma seco das prostitutas que frequentam e manchas de óleo da oficina onde trabalham.
Vai daí, há uma gaja que faz abortos, com tubos e um ralador de queijo e uma esponja e uma caixinha de metal que parece daquelas dos biscoitos ingleses que são comidos com o chá.
E fá-los assim em série, mais ou menos como a linha de montagem daqueles carros que são feitos em linhas de montagem. Isto é, com certeza, uma figura de estilo. E como todos já sabem, em termos de figuras de estilo, eu sou o maior de Portugal e o segundo melhor da Europa. Parece que há um romeno que também já é muito bom mas como a esperança média de vida na Roménia são 4 anos, significa que já falta pouco para eu me tornar no melhor da Europa e ter apuramento directo para os campeonatos do mundo.
Entretanto bebe-se chá. Muito chá. Parece-me que os ingleses bebem chá como nós cá bebemos vinho tinto e acabamos com cirroses e cancro no fígado e aquelas manchas nas mãos e na pele como o Conan O’Brien. Felizmente, o chá só dá vontade de ir à casa de banho mais vezes. Nem provoca infecções urinárias nem outras coisas. Pode é provocar cancro na próstata se um gajo aguentar muito a cena e ficar assim à rasquinha muitas vezes. Além disso, perde-se também toda a elasticidade na bexiga, que é como um balão. Quando é muito cheia e esvaziada muitas vezes perde a elasticidade. E depois começa-se a largar pinguinhas quando nos baixamos para apanhar livros ou rir com mais força – também dá direito a peidos para quem não tem o meu controlo anal - levantar vasos ou fazer dessas coisas que as pessoas mais pobres têm de fazer porque não podem contratar pessoas ainda mais pobres que as façam por eles.
Depois aparece uma que trafica várias coisas de mercearia e é, mais ou menos, a manager da gaja que faz os abortos.
Depois há um que é mecânico, o gajo que é casado com a Vera Drake – a dos abortos - e o filho alfaiate e o irmão do mecânico que é o dono da oficina que tem uma mulher que vê-se mesmo que gosta de ser comida por trás à canzana e que lhe chamem nomes.
Tudo corre bem. Até a filha da gaja que faz os abortos arranja um tipo que acaba por ter o maior Natal da vida (palavras do próprio, não quero que pensem que estou a inventar – que Deus me fulmine já aqui se não estou a dizer a verdade - … - nada aconteceu) e que se até ele consegue uma gaja porque é que eu não hei-de conseguir? Mistério.
Para o filme ser politicamente correcto até metem para lá uma preta a abortar e diga-se de passagem que são muito boas naquilo também. Acho que no próximo campeonato da Europa de abortos já não deve haver divisão racial.
Os abortos sucedem-se. Uns aos outros, portanto. Mas um dia há que corre mal e a gaja fica assim meio fodida com olheiras e muito mais bonita do que era antes de fazer o aborto e estar toda arranjadinha e quase morre.
Então aparece a polícia que vai logo “tomar conta da ocorrência”, inquirir “a queixosa que se fazia acompanhar da respectiva mãe”, abrir um “inquérito sumário”, entrevistar “testemunhas da ocorrência” e lá mais essas coisas que se fazem e zás! Chegam mesmo a meio da parte em que eles estão a festejar um noivado e o “prenhice” daquela que gostava de levar com ele à canzana.
Entorna-se o caldo e é altura de se dizer “co’a breca, diabos me levem”.
Depois pronto. Acontecem assim “cenas” e “coisa-se” tudo no fim e há um gajo que estava a dormir na sala que acorda e diz: “isto é que foi um granda filme hã?” e ri-se como um porco e saímos todos para ir fumar e ligar os telemóveis como se faz sempre à saída do cinema. Sem ser aqueles que põem os telemóveis apenas no silêncio porque esperam que “aquele grelo que estive quase a comer no sábado de há três semanas atrás” finalmente ligue para combinar aquele café.
O aborto é mau – diz Deus e o Paulo Portas. Vera Drake é muito bom.


Vera Drake - :D~

:O~ <- vómito (filmes tipo AI, Matrix 2 e 3)
:O <- filmes “preferia ter gasto a guita em cerveja, droga ou cigarros”
:| <- filmes “naquela”
:) <- filmes médio-fixe ou “nice”
:D <- filmes “cum gajo até acha que coiso e tal e diz aos outros para irem ver”
:D~ <- filmes que “sim senhoras”

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