quarta-feira, 21 de março de 2007

zooey

The fountain – O último capítulo


Um gajo quando vê filmes de alguns gajos depois fica mal habituado. E qualquer coisa menos do que aquilo a que um gajo está habituado, já não satisfaz. Ou satisfaz pouco. Que era aquela nota da primária que um gajo não percebia muito bem o que era. Estava ali no “entremédio”. Depois havia o “mau” e o “muito mau”. O “mau” corresponde àqueles acidentes de carro em que não sobra nada e os restinhos têm de ser descolados do chão com uma espátula e um pincel daqueles dos tipos que fazem escavações ou fazem o CSI. Ou um martelo como aquele tipo do filme em que vai para um prisão e passa o tempo a preencher papéis de IRS e a levar no cu. Mesmo assim eu acho que deve ser preferível levar no cu. O “muito mau” é uma nota que nunca foi dada. Excepto uma vez. Quando uma miúda da minha turma respondeu, num teste de Ciências, que a diferença entre estrelas e planetas era que as estrelas tinham bicos e os planetas eram redondos. Era um bocado monga mas tinha sempre pastilhas elásticas. E um gajo quando tem 11 anos até vende os pais por um pacote de Super Gorilas. Ou aquelas pastilhas de melão que, segundo constava, eram feitas com cuspo pela mulher lá do café do homem que cheirava a sovaco logo de manhã. Chamava-se Francisco e tirava a febre a seguir ao almoço. As pastilhas até podiam dar cabo dos dentes mas que interessa isso com 11 anos? E depois eu era dos que tinham de lavar os dentes com Fluorcaril ou Oratol (num dia bom) e não podia usar Colgate nem Pepsodent. Tudo porque “diz que” a Colgate faz mal não sei a quê. E depois um gajo ficava a pensar que devia ser mesmo bom porque, nos anúncios, até os pretos e os chineses lavavam os dentes com aquilo. E para os pretos lavarem os dentes é obra. O Gustavo, o do Rocky, é que dizia que o sabor da Colgate vinha do flúor. Mas depois havia um tipo, que era o Ornelas, que cheirava “bué de” mal e tinha um olho meio fechado e dizia que cheirava a flúor (ele, não o flúor). E eu pensava o equivalente a “wtf?”, quando se tem 11 anos. Mas aquilo não era se não pés e rabo mal lavados. Só anos mais tarde percebi quando o Banha se descalçou na tenda num acampamento em Tróia onde eu tinha uns calções de banho que ficavam transparentes com a água que estava fria – parecia um dedo mirrado. Do Ornelas podia vir qualquer coisa. Ele era dos que disputavam o lugar à janela, nos carros, quando toda a gente sabe que o melhor lugar é o do meio. Agora não. Porque um gajo agora, vai ali ao meio com o rego assente num altinho que não é banco e ainda corre o risco de ir de cara ao ar condicionado e ficar como aquele tipo do “iihh não digas isso que ele teve uma vida lixada”. O Ornelas podia cheirar mal mas era um tipo cheio de guita. Ia de Mercedes para a escola e tinha primos daqueles que andavam a cavalo. E tinham uma quinta não sei muito bem onde. Só podia ser fora de Lisboa porque o pai dele tinha barba ruiva e transbordava importância.
Nunca falha, este truque de falar de outras cenas que não têm nada a ver. Mas também penso que já não há quem acredite que eu realmente perceba de cinema. Bom, sempre posso dizer que o cinema moderno foi inventado pelo Griffith. Com o “Birth of a nation”. Mas isto já seria decorado.
A cena é que um gajo vê o “Pi” e o “Requiem for a dream” e depois fica naquela de achar que o Aronofsky até é um gajo competente naquilo que faz. Se eu gostasse de gajas com sobrancelhas mais grossas que um dedo da mão, até podia dizer “isso do Requiem for a dream só vale pela parte em que a mulher do Incrível Hulk leva com um dildo no cu”. E este filme também tem uma gaja de sobrancelhas grossas e um dente da frente torto. Ainda por cima é mulher do realizador e é comida na banheira pelo Wolverine. Deve ter entupido o ralo e descambado para aquele filme da Nicole Kidman que não vi e também não vou ver. Depois o Wolverine rapa o cabelo e as patilhas e torna-se amante de árvores. Havia um tipo na minha escola, na primeira – onde morava o João Miguel – o da erecção, não a do Ornelas, que foi a segunda, que um dia apareceu de cabelo rapado. À Gillette mesmo. E depois a cena que corria era que lhe tinha caído um caldeirão de água a ferver em cima. Eu achava muito estranho porque um gajo que apanhasse com um caldeirão de água a ferver não ia sofrer apenas de queda de cabelo. Eu uma vez meti um braço no tacho onde se fazia marmelada e não me caiu o braço. Este era como o Ornelas em termos de cheiro. Mas era a fritos. Que, se não me engano, era do Kispo verde que trazia sempre. Kispo com letra grande. Da marca mesmo. Eu também tinha um Kispo, castanho, original. Onde limpava o ranho do nariz àquela parte das mangas que faz assim uma cena enrugada ao pé das mãos mais ou menos em elástico. Com o tempo enrijeceram mais que o pequeno Saúl e tiveram de ser serradas. E parecia um colega de trabalho do meu pai, o dos fritos, não o pequeno Saúl, mas em versão filho. E depois, este tipo, antes de rapar o cabelo (o dos fritos, não o Wolverine – estou a fazer tempo) deu um estalo noutro porque o outro lhe tinha dado primeiro. Isto tudo com a Fernanda Gorda, que era contínua, mas não era diferenciável (:|), a segurar a cabeça ao não-sei-quantos que tinha mandado um estalo primeiro. E o não-sei-quantos era dos maus. Era da terceira classe. O único tipo da segunda classe que lhe bateu, uma vez, foi o Luís Filipe – que era o mais forte da segunda classe (uma vez partiu um braço e não chorou), em segundo estava o Flávio, que não tinha pais mas tinha um avô. O Luís Filipe era um tipo sem formação nenhuma. Uma vez apostou mil contos com o meu irmão como a sobremesa era leite-creme e afinal era arroz-doce. Ainda hoje não pagou. Anda-se a fazer de esquecido, como os ciganos. A esses é que um gajo não podia fazer nada ou no dia a seguir estava uma carrinha cheia deles lá à porta da escola e nem o polícia à paisana podia safar. O estar à paisana era ter um guarda-chuva. Dava-lhe um ar mais “casual” (lê-se “kéjual” – é inglês, a palavra, não o polícia à paisana) e fazia par com as calças de “tweed”. Nem o Chorão, a quem o pai tinha dado licença para atirar pedras à cabeça dos outros se metia com a ciganada. Era a sério.
O filme? Nhé.



The fountain - :|

:O~ <- vómito (filmes tipo AI, Matrix 2 e 3)
:O <- filmes “preferia ter gasto a guita em cerveja, droga ou cigarros”
:| <- filmes “naquela”
:) <- filmes médio-fixe ou “nice”
:D <- filmes “cum gajo até acha que coiso e tal e diz aos outros para irem ver”
:D~ <- filmes que “sim senhoras”

6 comentários:

... disse...

eu usava fluocaril de morango. era bom, a colgate picava, belhake.

e tinha um kispo, mas era cinzento. ainda hoje, 20 anos depois ele é usado. pela minha mae.

paulo disse...

depois de ver o requiem, este é daqueles que um gajo chega ao fim e diz "hein?"

Curiosa disse...

UFFFF, já acabou?
Fumas enquanto escreves? Cigarros claro, daqueles que matam e continuam aí à venda, sabes? lol!:)

Hoje não resisti em comentar caraças!!!
Parto o côco a rir cada vez que cá venho, mas a cabeça não se magoa.

juvenal, o anormal disse...

isso sai tudo de seguida. em geral são 15 minutos seguidos. não fumo.

Anónimo disse...

"era contínua, mas não era diferenciável"

ena sabes umas coisas de Análise Matemática... parece que afinal no IST aprendeste qualquer coisa...

paperdoll disse...

mas achas que alguém lê o que escreves porque pensa que percebes de cinema? até podes perceber, mas o pessoal gosta é das tuas desconversas! e és o maior nisso, sem dúvida.