terça-feira, 20 de novembro de 2007

settling the score

Grrnhold (deve ler-se Carlos Miguel) coçou quatro dos dezassete testículos por cima da bolsa testicular em caxemira (o tecido, não aquela cena entre a Índia e o Paquistão), de corte italiano, enquanto olhava pela janela do palácio de onde governava a Galáxia. Tinha deixado a sua nave em segunda fila porque desde que o Universo estava em contracção que era impossível arranjar um bom lugar para se estacionar sem que a EGEL (Empresa Galáctica de Estacionamento da L341) viesse logo com aqueles bloqueadores e com aquela conversa “ó amigo, então acha que isso está bem estacionado? Ainda ontem esteve aqui uma senhora que dizia que depois não conseguia passar com o carrinho do supermercado”. A nova lei que queria impor, era o abate automático de quem tivesse mais de 50 anos e fosse ao café ocupar uma mesa por mais de 10 minutos com um galão e uma sandes de manteiga. Se a sandes tocasse, durante este processo, no galão, o abate seria no local e não nuns armazéns novos que estava a construir ali na parte de trás da serração do cunhado que era muito jeitoso com tudo o que metesse tijolos e cimento. Grrnhold tinha sido eleito depois do Grande Vazio. O Grande Vazio foi um período em que não aconteceu nada. “Isto vai-se andando” - dizia-se. Antes do Grande Vazio tinha havido o Grande Cheio. E no intermédio comeu-se uma sopa de feijão com pãozinho torrado. Na verdade, ninguém sabia muito bem o que chamar a esses períodos. Por isso o autor, decidiu dar-lhe o nome do seu coração. O Grande Vazio.
João Onório acabava de dobrar as meias e separá-las por cores e material de fabrico. As de algodão com bonecos ficavam na primeira gaveta, as de lã iam para a segunda, ao pé das cuecas e dos três boxers, dois oferecidos no Natal e um que “o teu pai já não usa e bem que podias ficar com eles, porque sempre de cuecas pareces o Al Pacino no (por mais que tente não me consigo lembrar do nome do filme)”. A terceira tinha os pijamas de Verão, a quarta os de flanela e a quinta a roupa que “já não usas mas o melhor é não dar porque nunca se sabe o dia de amanhã”. A colecção Outono/Inverno do Carrefour acabara de sair e João mal conseguia conter a ânsia de ir gastar o subsídio de férias poupado com a semana passada no avançado da família da mulher no parque de campismo da Costa de Caparica. João era funcionário numa companhia que vendia lagostins aos espanhóis. As suas calças de sarja de ganga, já muito lavadas, combinavam sempre com uma das três cores das riscas das camisas que usava. Duas canetas perfeitamente alinhadas saíam do bolso da camisa. Uma era só a tampa, mas como nunca a tirava, ninguém percebia. Tinha pouco que fazer no dia-a-dia e, como queria impressionar muito os colegas, fartava-se de sublinhar números totalmente irrelevantes em folhas de papel fornecidas em caderninhos de espiral pela Dona Rosário, do secretariado. Várias vezes. Outras até punha rectangulozinhos ou tudo dentro duma circunferência. Números que fingiam ser debitados por um computador que nada fazia, além de consumir processador e fazer vrrrr nas ventoínhas. João abria o editor de texto e escrevia instruções em inglês macarrónico e números ainda mais irrelevantes do que os que escrevia no papel. Fazia “Enter” muitas vezes, algumas delas seguidas e dizia “hmm hmm” enquanto abanava a cabeça “que sim”. Que tudo estava bem. Que aqueles números tinham tido o efeito que queria. Ao longe, parecia algo complicadíssimo. Uma tese sobre a conjectura de Poincaré. Disseram-lhe que “estava ali por causa do subsídio” e que “iria receber números com contas e processos para fazer relatórios” para “parecer ocupado” caso “eles venham aí”. No fim bastava enviá-los por mail para o administrador. Em letra vermelha. Que era para ele saber que eram os “números secretos” que permitiam à empresa funcionar. Com o tempo, começou realmente a acreditar que o que fazia era importante. Descobriu padrões. Imprimia folhas e dizia “pois, choveu muito” ou “isto aqui não é se não brewebkwrrwrew”. Terminando as frases com algo imperceptível. Por duas razões. Primeiro, porque nunca sabia do que falava. Segundo, porque, mesmo que soubesse, não tinha nada para dizer sobre o que fazia.
Grrnhold, que também estava no negócio do marisco, há muito que queria comprar a Mariscona, a empresa onde trabalhava João Onório. Para isso, enviou o seu filho mais velho que ainda não tinha nome. Podia ser por eu estar sem imaginação por lhe inventar um nome que pareça fixe e assim duma galáxia distante ou dizer que, na L341 (o número de série da galáxia, segundo o Grande Criador, interpretado no biopic por Cheech Marin), só se tinha nome a partir dos 200 séculos e 3 segundos de vida. O filho sem nome chegou à Mariscona como toda a gente. Com o dedo. Ahah. Isto fui eu que não resisti. Volto já a continuar. Não no plural como dizem os tipos que têm a mania que escrevem sobre discos e filmes e o Pedro Mexia, o Gabriel Alves e o João Bonifácio. Como estava a dizer, chegou à Mariscona no início de Junho. O objectivo era perceber como se podia comprar aquilo tudo pelo preço mais baixo, lançando boatos. Do género “a filha do chefe é fufa”. E depois fazer um tubo daqueles de viajar, como a Jodie Foster no Contacto (que foi a primeira vez que esteve dentro de alguma coisa com uma forma tubular sem um strap-on) e mandar para lá todo o marisco a preço de saldo. Como em todas as histórias em que uma pessoa (embora o filho sem nome de Grrnhold não fosse uma pessoa mas tivesse a forma duma porque me dá imenso jeito e não dá quase nada nas vistas quando se quer juntar pessoas de galáxias diferentes mantendo alguma coerência narrativa) muda de planeta, ganha sempre assim poderes. Como ter muita força ou estar numa cadeira de rodas e respirar por um tubo. O filho sem nome de Grrnhold (porque me dá jeito e, normalmente, só consigo ficar satisfeito e postar isto quando ultrapasso as duas páginas A4 e assim vou ocupando mais espaço) treinou durante quase 2 semanas. Só às sextas, porque depois “mete-se o feriado e a senhora sabe como é”. Fez quatro abdominais e uma elevação. Estava preparado. Foi metido na “cápsula de viajar para bué de longe” que parecia assim um autocarro daqueles novos da Carris mas sem o motorista bebâdo e as pessoas a dizerem “são uns selvagens. Vêm para cá e pensam que fazem o que querem. Como começar um mini-Irão, ou espalhar alguma doença e falam de maneiras tão estranhas, que é tudo grego para mim”. Tudo corria conforme o planeado. O marisco ia começar a entrar em finais de Outubro.
João Onório saiu de casa. Apanhou a camioneta e disse “bom dia, senhor motorista”. Este não lhe ligou. (Faço aqui um parêntesis, dois se se contar com o primeiro, para dizer que esta cena de se dizer “este” em vez de repetir o sujeito, fui eu que inventei por volta do 7º ano, quando a Almôndega, essa vaca que espero que tenha morrido de cancro do cu, nos dava Português). Sentou-se e abriu o último livro do Paulo Coelho, o seu escritor favorito empatado com o José Rodrigues dos Santos. A viagem correu sem incidentes. João estava excitadíssimo por ir conhecer o seu novo companheiro de trabalho.
João Onório sentou-se ao lado de D. e disse “olá, amigalhaço. Então que fizestes no fim-de-semana? O comer estava bom? Dissestes que gostavas de Merlin Meisson? A minha banda favorita são os Trovante, mas prefiro o trabalho do Luís Represas a solo”. No Pentium 3 que registava os sinais vitais do filho mais velho de Grrnhold (o tal que não tinha nome) viu-se um pico. Um impulso de adrenalina. Tinha sido preparado para tudo. Mas seria este o ser que vinhas nas Escrituras? O super-herói que salvaria o marisco da Humanidade? O homem-desgaste? O gajo da informática disse “isso é mazé vírus”. E vai daí instalou-se logo um anti-vírus e esperou-se para ver o que dava. O homem-desgaste continuou o seu trabalho de corrosão. Por dentro, sem nada o parar. “Então e aquele Fernando Mendes? Levado da breca, o gordo, hã? Rio-me a bandeiras despregadas quando o vejo. Mas quem eu gostava de ver trabalhar era aquele Nicolau Breyner. Faziam cá uma parelha”. O filho mais velho de Grrnhold (o que não tinha nome e que me permite ir enchendo mais e mais isto sem ter de me lembrar assim de mais coisas para fazer a história andar para a frente e talvez deitar-me antes da meia-noite) tinha conhecimento de uma coisa inventada pelos comunistas para se dedicarem ao ócio, como é muito do seu agrado, a baixa. Meteu baixa e arranjou um portátil e um telefone para trabalhar à distância. Mas o mal estava feito. João Onório enviava-lhe mails com apresentações em Power Point com mensagens do Buda e de Cristo e sobre aquela senhora que ia nos semáforos do Campo Grande e tinha aparecido um miúdo que lhe tinha começado a limpar os vidros e que depois lhe espetou uma seringa no ouvido e lhe meteu um pó na bebida e o cartão numa caixa Multibanco daquelas que depois não se telefona logo a cancelar e se fica sem o dinheiro todo. O filho mais velho de Grrnhold (o que ainda não tinha nome porque só se dava nome a partir dos dois séculos e três segundos de vida) sentiu um aperto. A respiração tornou-se irregular. Dois cabelos ficaram brancos de repente. Marcou o código de emergência. Que era igual ao número de Retális mas com um zero antes. A cápsula foi rapidamente enviada de volta para a L341. Mas chegaria já sem vida. O funeral foi simples e nem haveria salgados, ao contrário do Sebastião.
João Onório continuava a apanhar o 721, como fazia todas as manhãs. Ninguém sabia o que tinha acontecido a D., como era conhecido o filho mais velho de Grrnhold. João só pensava “era mesmo bom rapaz, um pouco calado, talvez”. João acabaria por ser promovido. Já tinha direito a um rato para fazer cliques e a uma cadeira com rodinhas. Diziam-lhe que “eles lá em cima estão contentes com o teu trabalho”. Sorriu para dentro e escreveu no novo processador de texto: “sou feliz”.

12 comentários:

Mlle. Lolita disse...

Épico!...

Anónimo disse...

começa a ser exigível uma estreia em livro pá.

Anónimo disse...

Quase interessante...

Rita Ochoa disse...

Quem é a Teresa?

Anónimo disse...

Deu-me uma embolia...

Anónimo disse...

Douglas Adams meets Marco Paulo.

Anónimo disse...

Nada disso! Philip K. Dick vs José Rodrigues dos Santos.
Xena, darling, está esclarecida, ou a correcção do moço confundiu-a?
Falhada, que é feito de ti?
P.S. espero que o cheque da avença já tenha seguido, Juveanal.

juvenal, o anormal disse...

foi uma embolia também. não uma correcção.

R. disse...

Eheheh... One in a million!!!

Anónimo disse...

Rentalis? Retális, pá! http://www.retalis.pt/

juvenal, o anormal disse...

é que eu sou do sporting. ando de taxi, nao os guio.

Anónimo disse...

cum estupor, não da pa ler isto td