terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

cenas da pessoa

http://ipsilon.publico.pt/Oscares/texto.aspx?id=277941


O que eu gosto mais nos filmes são explosões e decotes. E carros que andem muito rápido com homens musculados lá dentro e t-shirts brancas de alças - nos homens musculados que guiam e os carros e não por si - como se morassem em Fernão Ferro que fica mesmo pertinho da Coina. Diz que, se se deixar a janela aberta de manhã em Fernão Ferro que, de noite, a casa tresanda a Coina. E diz que isto é mesmo assim, não sou eu a inventar para fazer a piada fácil, até porque tenho um primo que já lá morou e sempre disse que as coisas em Fernão Ferro funcionam mesmo assim. E que há uma modista que se chama Cidália. E ele sabe porque ele já esteve em Madrid uma vez no casamento da prima que se casou com um espanhol que jogava no Levante. Mas depois veio-se a descobrir que ele não era espanhol mas era cigano e isto porque era muito poupado na água e ela começou a desconfiar e perguntou-lhe e ele admitiu passadas duas horas de ela lhe estar a dizer no seu espanhol que não era o melhor mas dava para ir safando "éres ciganito, Pepe?" e ele a repetir que não mas diz que depois lhe deram um apartamento e ela esqueceu-se disso, embora eu sempre tenha achado que era por venderem droga. Porque diz que os ciganos em Espanha gostam é de vender erva e que não é nada como cá que têm negócios honestos de atoalhados que vendem na feira de Carcavelos.
É nos filmes que os homens musculados conseguem sempre miúdas com decotes através das explosões. Quem vem de cima e lê, se calhar, só agora percebeu a ligação ou então é muito esperto e isso e tem um curso superior daqueles a sério em que a pessoa até tem de fazer contas de cabeça e com máquinas que fazem gráficos que parecem decotes daqueles dos filmes com gajas que andam de carro com homens musculados e explosões. Que são os filmes que eu gosto. Mas não tem nada de nada a ver com homossexualidade. Não. O que eu gostava era que a minha vida fosse assim. Mas nasci enfezado e tive de tomar vitaminas e chumbo e tiveram de me barrarem com mercuriocromo daquela vez que me entornaram um galão nas pernas e eu estava com os calções de banho de polyester novos que me deu a minha avó mas diz que se via tudo à transparência mas só me disseram depois.
Depois, que não é depois mesmo é depois na minha vida, o que eu gostava mesmo era de jogar computador. E de cadernetas e de comprar revistas sobre computadores e de jogar aqueles jogos em que a pessoa joga uns dados e escolhe números para abrir portas e beber elixires. E as miúdas gostavam era dos gajos que jogavam bem à bola e ao "basquete, como o teu avô", como dizia a minha avó. E não aos gajos como eu que faziam passes para a baliza mas que tinham uma personalidade de ouro que valia a pena conhecer se se dessem ao trabalho. Mas não davam.
A única miúda que me ligava era uma metaleira do meu prédio que depois deixou de ser porque eu mudei de casa e só nos cruzávamos na paragem do 36. Ali ao pé da Caixa Geral de Depósitos no Lumiar.
Nunca falámos porque eu nunca sei o que dizer em nenhuma situação. E isto é tripla negação. E, um dia, quando íamos para casa do João Pedro ver a cassete da "Xixólina" que era do pai dele mas que toda a gente sabia que estava dentro da caixa que dizia Paul Simon - Live in Central Park e beber cerveja, ela foi atropelada e ficou numa cadeira de rodas e eu perdi o interesse até porque não lhe davam mais de seis meses de vida e eu procurava uma relação a longo prazo.
Isto para dizer que se houvesse o Facebook na altura, eu teria ido à página dos Megadeth, porque ela tinha uma t-shirt do Megadeth, e perdido três dias a percorrer os dois milhões de fãs até a encontrar e convidá-la para um galão e um palmier coberto ali no Trenó. Um homem é capaz de tudo quando quer uma miúda. Até ler poesia e ir a bailados.
E por isso é que eu gostei deste filme porque o Facebook permite-nos fazer amizades e as amizades são a melhor coisa do mundo quase tão boa como a cerveja e a Playstation. E para mim o Facebook é a maior invenção de sempre do homem ao pé da esferográfica, do botão do meio do rato e daquele buraco das cuecas por onde um gajo mete a pila de fora para mijar até depois desistir porque fica sempre com o dedo polegar molhado. E espero que façam uma sequela em que se misture com o Regresso ao Futuro e onde se inventa o Facebook em 1984 e assim eu posso ir e salvar esta miúda, que nunca soube o nome, de passar o resto a vida a beber sumos por um tubinho e a falar como o Stephen Hawking.
E aquele que tinha uma banda de rotos vai muito bem a fazer daquele outro que inventou aquele programa que dava para se fazer downloads de músicas mas que depois foi preso e o que faz de chefe também embora não se perceba muito bem como é que ele fez aquilo ao outro só por ele ser hispânico. Eu cá só espero que a comunidade hispânica se recuse a ir lá a casa fazer as limpezas e cortar a relva e passear o cão só para ele ver como é.
Ah, e a música é muito jeitosa.

4 comentários:

Ska disse...

Uau. E o gajo bisa e tudo!

O Gémeo Perverso disse...

Gosto muito do último parágrafo e dos comentários, pois é aquilo que leio sempre nos textos do público porque o corpo principal da crítica é muito extenso e faz-me dores de cabeça. Também só faço isso se tiver menos de meia dúzia de comentários senão mudava logo de página.

Telmo disse...

Não resisti e deixei um comentário. É fácil demais.

Little Bastard disse...

Respect.