terça-feira, 1 de maio de 2012

in a young man's mind

Ali.

Eu acredito na justiça divina. E acredito que há um Deus lá em cima que olha pela gente. Mas acredito que é um Deus que é um bocado como as mulheres. Um gajo reza e dá atenção e Ele vem e dá Mercedes e apartamentos na Costa da Caparica. Um gajo leva-O a jantar fora a sítios especiais com vista, pratos em francês e ainda se chega à frente no fim para pagar tudo com o cartão novo de impressionar as miúdas e Ele vem e dá iPhones e iPads e coisas dessas que são realmente importantes e que trazem a felicidade. Mas quando um gajo não liga e se começa a desleixar, porque já O tomou como garantido, Ele vem e, além de nos meter o cancro na cabeça e na pele - e ter de ouvir aquelas piadas de “isso deve ser um sinal do Céu” - ainda nos dá daqueles telemóveis que não têm internet, nem um buraquinho para cartão de memória e uma casa na Cova da Piedade ou no Magoito e manda-nos ter filhos deficientes que se masturbam em público ou, daqueles menos maus, que só têm daquelas deficiências que passam com choques elétricos, pauladas no lombo ou uns comprimidos que agora têm no estrangeiro que diz que curam os deficientes. As pessoas depois percebem que aquilo é castigo e começam logo a fazer coisas de novo para recuperar os iPads e os iPhones. E também serve de aviso para as outras que estão mais inclinadas para se desleixarem e que vão lá pelo exemplo. Eu acredito que basta ser bom e Ele repara na gente. É como ir às discotecas e ser amigo do porteiro e ele vem e aponta e diz “os senhores, quantos são?” e um gajo responde que é ele e mais os quatro colegas de trabalho que compraram chapéus e óculos aos indianos e ele faz aquela cara de “hoje está complicado” mas lá faz o jeitinho porque percebe. E ser bom passa por ligar aos pobres, comprando-lhes comida daquela que eles gostam - como é o feijão, a farinha, o frango e a sopa de nabiças e todas as outras coisas que os pobres gostam de comer, porque o seu palato não evoluiu da mesma maneira e então mais vale dar-lhes isso do que andar a desperdiçar em bifes da vazia ou ostras, lá naquele restaurante favorito deles, o Banco Alimentar. Depois ainda têm aquele hábito de molhar tudo com uma carcaça e empurrar com vinho tinto de pacote e trincar com o único dente que ainda lhes sobra porque o seguro de saúde deles é daqueles que não cobre estomatologia. A doutrina divide-se quanto a suster a respiração quando se passa por eles. Há quem defenda que se pode fazer mas só se não der muita cana.

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