terça-feira, 28 de novembro de 2006

erase errata

Velha gruta



Podia começar isto da maneira mais fácil dizendo “sim, comi a Alexandra Lencastre”. Mas depois ainda me arriscava a ser convidado de honra no programa do careca da boina com o risco adicional de ser considerado “comediante”. E se há coisa que ninguém quer é adjectivos iguais aos do Mílton. Como enconado, amputado cerebral e Mílton.
Não, não comi a Alexandra Lencastre. Não lhe diria que não, se me aparecesse suficientemente vestida para eu não confundir as pregas de celulite das pernas com “a cena”. Há que evitar ser ordinário e evitar (dizer) crica ou ratedo.
Mas podia ter comido aquela magricelas do Anjo Selvagem. Eu é que não quis. Não curto gajas com menos chicha que uma perna de frango. Além de que precisou da máquina de calcular do telemóvel para dividir a conta por 10. E eu calculo pi de cabeça até à 49ª casa decimal (parece-me que dá 3,1415926535897932384626433832795028841971693993751, assim por alto).
O preço nestes sítios é sempre exagerado. Uma ponta de carne e duas folhas de alface num prato que parece um vinil do Elton John (muita cor e nenhum conteúdo) e um gajo deixa lá o olho do cu. Esta inflação deve-se à invasão de betos ao bairro alto, qual “V, a batalha final”. Dê esta mensagem ao grande chefe Bernardo e à rainha Mariana: “todo o Bairro está ocupado. Todo? Todo. Ele perceberá”. Um gajo sente-se defraudado. É como eu que comprei o “Ensaio sobre a cegueira” e julguei tratar-se da biografia do João Ferreira (sim, o árbitro de andebol) e afinal é sobre uma quantidade de tipos que ficam cegos, por andar de transportes públicos. Eu cá não ando. Tive caspa durante dois meses por roçar a cabeça numa daquelas pegas de cabedal dos autocarros cor-de-laranja da Carris.
A grande cena deste sítio é ficar ao pé da cozinha. As gajas que servem fartam-se de se baixar para tirar mais um copo e, com um pouco de imaginação e demência, vislumbram-se relevos, dos que importam. Não que isso seja algo de mais. No outro dia, houve uma festa em que havia miúdas a despir-se e eu cá não fui – porque a mim não me fodem eles (isto não tem nada a ver mas é uma jóia de frase). Um gajo para ver miúdas a despir-se vai mas é ao teatro que sai muito mais barato e, qualquer peça que se preze, tem gajas que se despem e normalmente são boas (é uma cena das gajas das artes – pena não raparem os pêlos de baixo dos braços, terem mamas-badalo e a cara meio fodida dos cigarros). E falo por experiência própria. A última que vi (peça, não gaja – que agora chamam performance – à peça, não à gaja) não valia nada. Mas tinha uma gaja muito boa que se despiu. Pena ter mamas bjorkianas (tipo ovo estrelado). “Então e não tiraste fotografias?” – perguntaram-me. “Não. Tenho um Nokia 1100”. “Um Nokia 1100? Mas isso serve para quê?”. “Pá, cabe no bolso e quando toca ouve-se o “ace of spades” dos Motörhead. Que mais pode um gajo querer?”. Isto de meter aspas dentro de aspas é experiência. É uma brincadeira de crianças ao lado do XML.
Era irrelevante escrever o “ace of spades” dos Motörhead. Quem conhece um conhece o outro. Quem não conhece os dois deve levar com um pau com pregos enferrujados no cu.
Mesmo assim não tinha gajos a rebolarem-se no chão metidos em sacos de plástico, o que já é positivo, mas viram-se pilas. Daquelas dependuradas, a lembrar perus.
Quando saí para a rua e enquanto não vestia o meu novo casaco de pele (não havia miúdas ao pé) apercebi-me que deveria ter ido a um indiano. Se um gajo conseguir detectar e afastar todas as caganitas de rato para o canto do prato (exercício não acessível a todos), sai de lá cheio, não paga quase nada e, no eventual risco de intoxicação alimentar, como esta ainda é considerada urgência, passa-se à frente de toda a gente. Até dos estropiados e das velhas com hematomas na cara. Porque esses, “assim comássim”, não ficarão cá muito mais tempo. E agora até está na moda morrer. Não percebo é o porquê de tanta cena por causa do Cesariny. Acho o homem aborrecidíssimo. E para o provar, morreu às 5:30 da manhã. Logo para dar maçada aos outros bem cedo. Gajo fixe morre de tarde. A seguir ao lanche. O dia de trabalho termina mais cedo e um gajo já vai de barriga cheia tratar da papelada.
Quando eu era intelectual, Cesariny era daqueles de quem eu dizia que gostava. Cesariny, Al Berto, Herberto Helder, Jean-Luc Godard, Fritz Lang... bom, tudo o que fosse filme francês, inglês a preto e branco ou americano com menos de três falas. Se há coisa que as gajas gostam é de gajos que vêem filmes destes. As obras na Cinemateca não foram de remodelação, foram para tirar a humidade infiltrada naquelas paredes.
Ir a um indiano – ou a um chinês, além do exercício de umas linhas acima, também dá que pensar. Porque é que os pretos são os únicos que vêm para cá e não abrem restaurantes? Também é verdade que não têm comida própria. E para abrir um restaurante de farinha, leite e fruta enlatada, mais vale abrir uma mercearia. E para abrir mercearias mais vale importar judeus, que agora escasseiam. E o preço sobe. São as leis do mercado. Já Newton dizia: A=R.
Citações é comigo e com o Saramago.




Velha gruta - :| (pelo preço exagerado)

:O~ <- ao nível das cantinas em particular e da do Técnico em geral
:O <- cabelos na comida e sarro nos talheres
:| <- restaurantes Ana Malhoa - um gajo até lá vai, se não houver mais nada
:) <- restaurantes Alexandra Lencastre – um gajo, há uns anos, até lá ia e era bom – agora é mais o hábito
:D <- daqueles que um gajo pede o cartãozinho
:D~ <- comidinha da avó

12 comentários:

Fio de Beque disse...

grande post como sempre, a cena do cesariny é que foi um bocado ao lado...

ambrozote disse...

é isso mesmo! performance é gajos e gajas nuas pá! o resto são desculpas.

Anónimo disse...

lemmy rulez

podias fazer reviews de filmes antigos, saia-te barato

Anónimo disse...

Se bem percebi, lup51, sugeres que a anormalidade faça críticas a filmes antigos usando saias compradas à ciganada?

Anónimo disse...

ena tens um telemovel ao meu. Já aderiste ao estilo agora em voga, o minimal. Eu dantes tinha um 3G com camara e aquelas mariquices todas mas depois percebi que apenas serve para gastar mais bateria e dinheiro do bolso. Era mais giro continuares nas reviews a filmes mas também é melhor continuares a assim, sempre tem mais piada, do que andar nos posts pequeninos a mandar piadas amarelas. Força aí.

Anónimo disse...

Juve, porque e' que estas com o blog cheio de rabetas?
grande abraco

Anónimo disse...

esse trocadilho foi um bocado à la júlio isidro

mas por exemplo era bom ter aqui a review de um musica no coraçao" com piadas politicamente incorrectas

Rita Ochoa disse...

A última vez que lá fui comi escargots (vulgo caracoletas), deliciosos... mas como é à fina não me atrevi a chupar, utilizando invés uma pinça própria para os agarrar.
Claro que com o tinto, a corrdenação motora não foi fácil e escapou-me um, aterrando velozmente duas mesas atrás.
Todos se riram. Agora tenho verginha de lá entrar :(

Rita Ochoa disse...

Desculpa aí os erros ortográficos mas são 10:19am da madrugada e ainda não acordei...

Anónimo disse...

fonix man
já aí comi
fonix!

Joe Public disse...

feliz natal

ass: os maiores \o/

Joe Public disse...

agora tens fotos de gajos nos comments? :O