quinta-feira, 15 de outubro de 2009

porgy

Para o Filipe Carvalho, com votos de que não me plagie de novo.

Páris era feliz. Vivia num simpático T2, mobilado na Moviflor, que quase tinha vista para o Sado, não fosse o Tróia Casino Hotel que, além de outras espécies, tinha levado à extinção do mosquito de 5 asas. Único no mundo. No fundo, era apenas um normalíssimo mosquito de 6 asas a quem os miúdos lá da street arrancavam uma sempre que encontravam. Tinha uma relação aberta com a namorada brasileira, Sheila, que arranjava unhas e depilava cus na Cruz de Pau, num cabeleireiro que ainda estava a pagar. Não fazia muito dinheiro porque ninguém naquela zona se depilava muito. Muito menos no cu. Preferiam os gastos de extensas folhas de papel higiénico e um pouco de cu no bidé a seguir a cada caga que mandavam depois do almoço. Era costume peidarem-se nos dedos. Sinal de que a refeição tinha sido boa. Mas para isso, tinham de estar limpos. Ao fim-de-semana, passeavam de mão dada no Fórum Almada. Viam coisas bonitas, em lojas de decoração, que nunca poderiam comprar. Restava-lhes sonhar. Porque o sonho comanda a vida. Assim como o Sr. Gaspar conduzia o autocarro que me levava da escola a casa e, um dia, enganou-se não parou no Lumiar e eu comecei a chorar porque pensava que nunca mais voltaria a casa. Uns diziam que ele era bêbado, mas eu confiava no Sr. Gaspar. Tinham duas filhas. Uma de um anterior casamento de Sheila e outra que tinham encontrado numa férias no parque de campismo da Costa da Caparica, a comer dum saco do lixo. Era preta e gostavam de a pendurar num candeeiro da sala para que fizesse truques em troca de amendoins torrados. Aos domingos até a soltavam na rua. Onde as outras crianças lhe faziam festas e atiravam paus para ela ir buscar assente nos quatro membros. Páris trabalhava com o pai, Príamo, na pesca do pregado, em Tróia. O negócio corria pelo melhor. Um dia, Páris apanhou o ferry e foi a Setúbal comer um arroz de tamboril daqueles que tinha ouvido falar na telefonia. De se lhe tirar o chapéu, diziam. Páris até o prato rapou com meia carcaça que deixou para o fim para esse propósito. Não houve chapéus tirados até porque em Setúbal toda a gente usa fato de treino daqueles da risca branca de lado e fuma SG Ventil desde os quatro anos que marcam logo a cara com rugas profundas e provocam edemas pulmonares que tentam curar com sopas de alho e fatias de mortadela de peru. Foi lá que conheceu Lenita. Ah, Lenita. A mulher mais bela de Setúbal. Lenita, esposa de Menelau, rei das conquilhas e do arroz de tamboril, que a conquistara disputando contra vários outros reis pretendentes, em particular o Rei dos Frangos ali da Alameda das Linhas de Torres como quem vai do Campo Grande para o Lumiar do lado esquerdo e sente, de repente, a fome apertar como umas cuecas novas três números abaixo e os tomates chegam-se para trás e ficam presos entre as pernas e depois é preciso ir lá com a mão para os soltar porque se não colam e ficam trilhados entre as pernas. Até Ulisses, rei das sapatilhas do Seixal, que estava into some serious banging com a namorada, Pénelope, andou lá às voltas a ver se lhe saltava à espinha. Em vão. Lembrou-se de tudo o que sentia quando a mulher lhe sussurou ao ouvido, com aquela voz rouca já queimada pelos cigarros light de contrabando que comprava sempre que ia à Coina, e como ela gostava de ir à Coina, às vezes até ia à Coina com o marido, outras ia o marido sozinho à Coina, a um militar de carreira, "la, la-la-la-la, Ulysses, I've found a new way, I've found a new way, baby". Que é como quem diz, podes-me vir ao cu que eu agora deixo. Mais porque o sentia distante, mesmo quando estava por perto, do que propriamente porque gostava que lhe fossem ao cu. Tinha tentado, quando andava na C+S da Moita. Com o Almiro. Que agora tinha uma empresa de camionagem que operava entre Palmela e Alcochete, mas, segundo constava, o que fazia era lavagem de dinheiro para a máfia de leste. As coisas já não eram como dantes. Se calhar tinham casado demasiado cedo. Mas as noites de gin tónico fazem um gajo fazer coisas daquelas que depois se arrepende, tipo dançar Manowar em vídeo, e o melhor era não ter casado logo. Ah, Lenita, Lenita. O seu cabelo amarelo com dois dedos de raiz escura. As unhas de gel. Um top curto da Bershka. De onde saía um bom bocado de banha com furos mas que “dava jeito para agarrar”, segundo se dizia, um furo no umbigo e um tramp stamp que fazia pandan com o fio dental em T no olho do cu perfeitamente depilado e bleached na clínica de estética que tinha aberto ali ao lado do café do Gonçalves, que servia as melhores tostas mistas de Nossa Senhora da Anunciada a São Julião. Mal se sabia que o Sr. Gonçalves tinha um ingrediente secreto. Um elástico com o qual prendia as duas fatias de pão em volta da pila e se vinha abundantemente. Por cima, um fato de treino 100% polyester azul escuro. A fita de ténis branca na cabeça. Páris, num ataque de loucura que não soube, mais tarde, explicar, meteu-a no seu Fiat Punto amarelo com vidros escurecidos e amortecedores Koni. Instalados na oficina de Nestor que dizia sempre “um dia que queiras vender o carro, não te esqueças deste teu amigo”. Não eram muito amigos. Nem ele estava mesmo interessado no carro. Tinha visto isto num filme e gostava de repetir. Disse-lhe "vou fazer de ti a dama mais happy aqui do state, 'tás a ver?". Lenita não estava, mas sorriu e mostrou um bocado de alface presa num canino. Fez *fssst* *fssst*, com o espelho do lugar do passageiro para baixo, a ver se saía. Não saiu. "Chega aqui ao damo", disse Páris, que lhe lambeu, com amor mas sem tempero, o bocado de alface que teimava não sair. Mastigou ainda, e lembrou-se da infância quando a mãe lhe fazia lentilhas com alface apanhada no quintal que tinham por trás da casa. Girou a chave do bote, ligou a Orbital e partiu em direcção ao Sado. "Chavala, gira mas é aí duns trocos que o bote 'tá quase sem gota". Lenita largou a nota. Nunca tinha visto um homem como Páris. Com as suas Pepe Jeans com bolsos nas pernas e camisa com chamas atrás, aberta até ao umbigo. E o cap da Puma. Atravessaram no ferry. Saíram em Tróia e Páris disse-lhe “you be happy here, biatch”. Ela sabia que sim.
Menelau went berserk. Agamémnom, irmão de Menelau, disse: “sem stress, boi, a gente vai lá e furamos o mano aqui com o chino” e juntou a crew toda lá da street dele para apanharem o ferry das 9:45. Mas Aquiles atrasou-se. Estava a calçar as meias novas da raquete e com o stress todo só calçou uma e os crocs por cima. E claro que perderam o barco por quatro minutos. Pátroclo foi comprar seis birras ali ao super perto do barco. Era mesmo sem stress, era na boa. Agamémnom enrolou uma e fumou quase até começar a cheirar a unha. “Gira lá do fumo, Agaménomeomam... Agaménonmanamna... Agómanomemananmanan, turururu! Manan manam turururu!, coiso”, disse Aquiles. Toda a gente se riu, menos Agamémnom, que já começava a ficar fodido porque nunca ninguém acertava com o nome dele. No bilhete de identidade tinha Aganémona. Na carta de condução Agonámoné. No cartão de contribuinte não tinha nada porque era daqueles que vivia de subsídios e do rendimento mínimo e de tudo o que fossem folhetos que dessem descontos para comprar stuff e bling. E achava que Aquiles fazia de propósito para se enganar ainda mais. Pátroclo chega com as seis birras. “Gira lá dum vidro”, diz Ulisses. E Pátroclo girou. Até porque a bitch do Ulisses era boa e se ele ficasse por lá, Pátroclo ainda ia dar umas voltas com ela. Apesar de gostar muito de costura e passar o dia agarrada ao tear. Entretanto passam uns betos daqueles que deviam ir fazer windsurf para a lagoa de Santo André e Aquiles, para se armar também porque em pequeno era a mãe que lhe dava banho no rio pegando pelas pernas e os outros tinham a mania de gozar com isso, diz “tens um fumante, sócio?” e o beto tira o Marlboro do bolso e faz aquele sorriso que os betos fazem quando estão mesmo para ser assaltados e estica o maço e Aquiles diz “vou ter de te ficar com o maço, puto, porque pode apetecer-me logo” e o beto ia começar a stressar e Pátroclo vem logo por trás a fazer peito nas costas do beto “mas há stress ou quê? Põe-te a andar, sócio. Põe-te a andar ou furo-te todo” e ainda lhe fez assim uma espécie de cafuné daqueles que apetece fazer aos betos que vão no Metro a pentear-se assim para o lado no reflexo das portas. E os betos voltaram para o Mercedes do pai de um deles com os seus chinelos de meter o dedo e os cabelos que começam assim de lado e vão até ao outro lado e fazem assim uma espécie de onda.
Menelau checkou o time que faltava para apanhar o boat e enrolou mais uma. Agamémnom disse “gira lá do fumo, mano” e foi mesmo engraçado porque eles eram realmente irmãos, não era só mano de como os mitras dizem. Mais ou menos do mesmo casamento mas de pais e mães diferentes porque ali na margem sul nunca ninguém sabe quem é pai nem mãe de quem porque gostam todos muito de ejacular. Chegou a hora do boat. Entraram os seis para a parte aberta. Nenhum pagou bilhete e vem logo o pica “méquié, amizades?”. “Mas 'tás a stressar pa quê?”, disse logo Aquiles para se armar de novo. “Olha o cota a mandar estrilho”, disse Agamémnom, “continuas com stress e vou lá a tua casa e fodo o teu pai, a tua mãe, a tua avó, o teu avô e a tua prima, boi, sem stress, caralho, sem stress”. “Mil grau, Aquiles, mil grau”, disse Pátroclo e que já estava a enrolar mais uma e fez aquele sinalzinho de respect.
Eram 10:35 quando o ferry atracou em Tróia. A ida era ao complexo turístico Soltróia. Aí às 11 houve logo um stress entre Agamémnom e Aquiles, mas fumaram mais uma e a coisa acalmou. Páris viu a cena lá do spot dele e vinha-se logo para armar mas viu Menelau e recuou feito caguinchas. Menelau vai e diz “anda lá aqui que ninguém te vai fazer mal”. Mas Páris sabia que sim. Muito mais com Lenita, com Príamo, o boss lá do spot, a vê-los da varanda avançada do complexo turístico Soltróia. E, como assim pensou que não ia voltar a foder Lenita porque ela não curte de mansos, avançou e atirou-se a Páris mas já havia tanto fumo porque a esta hora já toda a gente tinha enrolado uma e estavam a ouvir hip-hop no tijolo de Heitor que a cena acalmou. E vai o Aquiles e pisa o chino de alguém e têm logo todos de ir para o centro de saúde da Comporta onde ainda levou pontos mas estava fixe para andar de skate dali a umas semanas. Páris e Menelau aperceberam-se que a coisa tinha ido longe de mais e concordaram em comer Lenita num major gang bang com direito a cum shot. De manhã, Menelau recuperou a sua esposa, Lenita, e levou-a de volta a Setúbal onde foram todos jantar a um restaurante novo de peixe grelhado e bivalves, que também fazia casamentos e baptizados e já gostavam todos muito uns dos outros e mai' não sei quê, até que, Ulisses, já farto daquilo tudo, vira-se para os outros e diz “screw you guys, i'm going heeeuuume”.

20 comentários:

joaninha versus escaravelho disse...

:D
Não sei qual a parte que gostei mais. Está muito bom, mas...
Acho que vou mudar de nome... :/

Filipe disse...

"Esteja descansado, não é assim tão bom para ser tão convencido"

juvenal, o anormal disse...

não foi isso que disseste sobre o meu texto que plagiaste e que está no teu facebook em:
http://www.facebook.com/flicr
e já agora podias ter usado a conta associada ao teu blog para responder tb:)

Moyle disse...

sweeeeeeeeet :)

Filipe disse...

Pronto, André, ganhaste. Achas que eu te plagiei? Força, tens o direito de acreditar no que quiseres. Eu referi-te no e-mail que desconhecia quem era o autor do texto e quando o soube coloquei-o no post. Get over it.

juvenal, o anormal disse...

a única coisa que queria mesmo, era que me tratasses por tu. obrigado:)

R2D2 disse...

Juvenal,
Deixa-te dessas merdas de dares a volta à tripa de um gajo só por se rir tanto.

Abraço

P.S. - Este blog está a ficar com nivel: "voçê" e o caneco...

Anónimo disse...

Enrolem uma e curtam o hip-hop no tijolo do Heitor que isso passa-vos!

Duchas disse...

fdx é Almada Forum nao é Forum Almada... sao mm duas coisas diferentes!

caramela disse...

do caralhinho, juvenal...
:D

Anónimo disse...

e uma carta à Maitê Proença? Por certo que já sabes a história.

Anónimo disse...

Gostei da parte dos betos do windsurf que vão para a lagoa de albufeira. Foi a gozar com alguns dos teus insipidos amigos?

MÁRIO LINO disse...

MARGEM SUL RULES!!!

pablohoney disse...

fico com pena do gajo do rei dos frangos...é que ele vende o melhor frango assado de lisboa (e o arroz doce também não é nada mau)

a leitora mais atenta do universo disse...

os betos vão para a lagoa de santo andré... não é a de albufeira.

:P

dono do blog disse...

Setúbal não é margem sul. Setúbal tem o Sado, por isso é margem norte. Quanto às referências regionais, têm alguma precisão, é certo, mas eu sou de Setúbal e não uso fato de treino... A parte das meias, tocou-me.

Anónimo disse...

Mau.
Devias ser abatido, pareces um animal velho e doente que já passou do prazo.

pdah disse...

"Fiat Punto amarelo com vidros escurecidos e amortecedores Koni"

ok. tens mais imaginação que eu. não é bem o que pedi com o ultimo mail acerca do filme com o di maria, mas acaba por ser um resumo do filme com o brad pitt e o rapazito-com-ar-de-menina-que-tambem-entra-nos-piratas-das caraibas que no fundo são filmes acerca da lota de setúbal.

Susymary disse...

muito bom!
adoro estes teus posts de meio kilometro!
as curtas Às vezes deixam a desejar!
beijos

bulletproof disse...

muito bom.