Rocky Balboa – Rocky Balboa
D. Afonso I, D. João II, D. Sancho III, Rocky IV
O mundo divide-se em dois tipos de pessoas, os que são da cena rocky e os que não são da cena rocky. Eu sou da cena rocky. E só não tenho uma t-shirt porque nunca vi à venda.
Foi em 1985, nos extintos cinemas Alfa, que vi o Rocky IV, pela primeira vez. Tinha 8 anos. E não tive outro herói até aos 15, quando ouvi Megadeth e comprei umas calças elásticas e uns ténis Reebok na Praça de Espanha.
A ideia (de ver o filme, não de comprar umas calças elásticas na Praça de Espanha) foi do Gustavo que era meu vizinho e sabia tudo o que havia para saber sobre o Rocky. Era obra. Tendo em conta que o Al Gore ainda não tinha inventado a Internet. Em 1985 não havia muito para fazer. Jogávamos Spectrum e metíamos o transformador dentro do frigorífico quando era necessário que arrefecesse. As miúdas eram contagiosas e peganhentas, a música não passava dos Wham, do ultra-repetitivo “In the army now” dos Status Quo e dos Duran Duran no Top Jackpot. Ainda hoje bato o pezinho quando dá o “Wild boys”.
Foi a altura de alguns dos piores filmes de sempre. As “Academia de polícia”, os “Gente gira”, o “Dragão ataca” (visto até a fita da cassete se transformar em moléculas – nunca tive desgosto tão grande, nem quando o Corneto me caiu “top-down” na praia da Costa) e o “Os salteadores da arca perdida”, do qual ainda hoje sei as legendas de cor. O resto era Rocky. O Gustavo dizia que o Rocky e o Ivan Drago tinham lutado na vida real e que o Ivan Drago tinha ganho. Eu nunca acreditei. O Rocky, para mim, não perdia. Nem mesmo com o russo no filme que, segundo o Gustavo, tinha um “gum shield” de aço enquanto o do Rocky era de plástico. “E nem assim” – disse logo eu. Foi como quando João Miguel encestou na 2ª classe. Nunca ninguém tinha encestado. Bom, também nunca ninguém teve uma erecção que saiu pelo buraco das cuecas em pleno balneário misto, na mesma 2ª classe. Até a Susana Pina, que era uma miúda que cheirava a urina, apontou para o João Miguel e deve ter ficado o correspondente a ficar-se húmida na 2ª classe.
Mesmo assim o Rocky ganhou naquela lição de vida do “se eu posso mudar, vocês podem mudar, toda a gente pode mudar”.
Eu tinha calendários do Rocky, que nunca consultei. Não interessava o dia quando se tinha 8 anos, uma fisga e o Rocky de um dos lados de uma colecção de 20 calendários. Também os tinha do Commando, de quem o Gustavo dizia que ganharia ao Rocky se algum dia se encontrassem, outra eterna discussão para a qual a Ciência, ainda hoje, não deu resposta. E uns do Sporting, onde figurava um preto chamado Meade que marcou uma vez um canto directo e nunca mais fez nada. Era quando o Sporting fazia contratações à Benfica. Os calendários do Rocky eram a minha página central da revista do Correio da Manhã de domingo, eram a minha Samantha Fox, de quem toda a gente falava lá na escola. Eu sempre fui muito precoce. Já na altura pensava “mas ela tem as mamas descaídas” mas nunca disse nada porque gostava que me deixassem jogar ping-pong mesmo que tivesse uma raquete de pau enquanto os bons tinham daquelas com esponja no meio e jogavam à chinês. Sempre fui dotado com as mãos e há umas tantas miúdas que podem confirmar isso. Mas a minha cena foi perder 21-19 com o Chorão, comigo a jogar “à chinês”. É como o Rocky neste filme. Perde mas é como se fosse uma vitória. O Chorão era um tipo que não distinguia alfinetes de agulhas. E gostava da Natacha (sim, eu conheci uma Natacha. Já só me falta uma punheta de mamas para morrer concretizado) que era uma miúda com uns bons 90 quilos, aos 9 anos. Uma vez a Natacha mandou o maior caldo da História ao Chorão. O Chorão foi atrás dela e só apareceram na última aula da tarde. O Chorão já deve poder morrer feliz.
Passaram 22 anos e muitos pezinhos foram batidos ao som do “Eye of the tiger” em noites de degredo. E ele está de volta. É verdade que já não vejo cinema da mesma maneira. Antes era dos que fazia barulho e dava caldos ao tipo que estivesse à minha frente. Só se ele fosse mais pequeno que eu, que nós, os cobardes, somos cobardes para a vida. É como aquelas doenças de pele que atacam a cara. Um bom exemplo é a miúda que serve imperiais no Esteves e que escama da cara, em pleno bar, para dentro dos copos. Se se conseguir a abstracção necessária, até porque a pele escamada é um dos principais componentes do pó que se acumula em casa e não passa de queratinócitos. Soa importante e, falo por experiência, marcha muito bem com cerveja.
A Cinemateca distorceu-me. Foi lá que aprendi a ver cinema em silêncio. Não fosse isso e hoje teria feito onda quando o Rocky entrou no ringue e gritado "ah, leão!". Mesmo assim, confesso que senti os pêlos dos braços eriçarem-se quando começou aquela música do tatatararatararatarara. Já não está cheio da mesma maneira. Tem pele a mais e nota-se assim nas mamas, que parecem aquelas mamas em cone das adolescentes com mamilos cor de café com leite.
Depois é a cena de sempre. Dá lições de vida em todas as frases. E chora. E não há nada de realmente enternecedor num tipo com paralisia facial a chorar. É quase tão mau como aqueles tipos das cadeiras de rodas que se cagam e não dão por isso até escorrer para o chão e deixarem um trilho. E há um preto que bate em todos e depois um tipo vai e diz “ao Rocky não ganhavas”. E vai daí o preto diz “ai é? Ai é? Achas que eu tenho cagufa?”. E vai daí, há um outro tipo, que deve ser chinês, pois eles é que são bons nisso, que faz um programa de computador em que o Rocky, no auge da forma, luta com o preto que é campeão e ganha. Mais ou menos como seria cá se alguém fizesse uma simulação de um “tit contest” entre a Dolly Parton e o Nuno Markl, ambos no auge do “tit buffing”.
E depois é a cena final de pancadaria, já sem a música dos Survivor mas a transbordar a “just a man and his will to survive”.
Rocky Balboa - :)
:O~ <- vómito (filmes tipo AI, Matrix 2 e 3)
:O <- filmes “preferia ter gasto a guita em cerveja, droga ou cigarros”
:| <- filmes “naquela”
:) <- filmes médio-fixe ou “nice”
:D <- filmes “cum gajo até acha que coiso e tal e diz aos outros para irem ver”
:D~ <- filmes que “sim senhoras”
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007
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7 comentários:
em grande forma
tambem eu passei a fase megadeth - mas a bichanice da calça elastica dispensei. os megadeth eram bem melhores que os metallica
o teu sporting - se quiseres descobrir umas coisas
http://blogdabola.blogspot.com
o teu soares franco e um vale e azevedo
brilhante :)
Juvenal em grande forma. Ora aqui temos um posto “cum gajo até acha que coiso e tal e diz aos outros para irem ver”
já vais fazer 30 anos. fonix man. tas velho.
best review ever.
juvenal, ÉS O MEU ROCKY!
Pois é linda geração, eu tb ainda hoje sei as legendas todas de cor de um outro ícon filmográfico desses tempos, embora com menos testosterona que o Sr. Rocky. As gajas certamente adivinharão qual é sem ser preciso dizer nada, mas para os menos atentos aqui fica a pista: "Nobody puts Baby on a corner..."
Quem adivinha???
E eu faço uma boa punheta de mamas
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