Apaguei o cigarro no cinzeiro de mármore em cima da secretária e esperei que falasse. “Sam” - disse ela - “ouvi dizer que és o melhor no negócio”. Não me chamava Sam mas ela era demasiado boa para me chamar o que quisesse. “Sabes, Jess” - disse eu - “um homem tem o seu preço”. Ela não se chamava Jessica mas eu também não fumava. “Oh Sam, essa frase não tem nada a ver” - respondeu ela, escondendo a cara no lenço branco. Levantei-me em direcção à porta, que lhe abri, e disse que ia pensar no caso. Pensava sempre no caso.
Acontecia sempre assim. Uma mulher abandonada, um marido enganado. E sobrava sempre para mim. Encostei-me para trás e acendi outro cigarro que não fumei, até porque não podia fumar no local de trabalho. Deixei-o apenas a queimar no cinzeiro porque os gabinetes dos detectives da televisão têm sempre fumo. Abri o jornal e ainda se falava do meu último caso. O Dr. Mitchell. Assassinado na sua mansão na rua 13. Eu disse logo: “foi o mordomo”. Alguém me perguntou como sabia. “A culpa é sempre do mordomo” - respondi eu. Além disso era o único com a camisa cheia de sangue e a faca de carne ainda na mão. Estava apaixonado pela governanta e a única coisa que os separava era a fortuna do Dr. Mitchell.
O telefone tocou de seguida. Tinha acontecido. Peguei na gabardine e no chapéu cor de nódoa. O táxi já me esperava, como se soubesse. Não é bem assim. Fui eu que o pus lá, para encurtar o parágrafo. “É para o cruzamento da 36 com a 9, Tony” - disse eu. Ele não se chamava Tony, mas eu estava demasiado bem vestido e podia-lhe chamar o que quisesse, até Pedro, o mexicano. Respondeu: “Certo, amigo. Mas quer ir pelos túneis ou vamos ali pelo Campo Pequeno?”. Não lhe respondi porque no parágrafo a seguir já lá cheguei.
O carro do tenente já lá estava. Como se soubesse. Como se soubesse sempre. Eles tentaram tirar-me tudo. Mas aqui com o velho Joe ninguém brinca. Na sala um corpo pendurado do tecto por uma corda à volta do pescoço dizia suicídio. Dizia mesmo. Por isso alguém teve de a calar. “Que acha que aconteceu, Bob?” - perguntaram-me. Não me chamava Bob mas apostei em suicídio por enforcamento. Até porque era o que dizia na nota deixada em cima da mesa de café, dizia mesmo. Até a escrevaninha quis dizer qualquer coisa mas calámo-la com um machado. Amanhã seria notícia de novo. “Detective resolve novo caso”. Teria direito a fotografia e até entrevista.
Quando voltei ao gabinete já ela lá estava. Tinha-o feito e eu sabia-o. Correu para mim a chorar e disse “oh, Sam”. Agarrei-a e deixei que chorasse no meu impermeável, mandá-lo-ia limpar a seco, se necessário. Depois não tive alternativa se não meter-lhe as algemas. Aproveitei que estava de algemas e comi-a por trás como ela gostava. No fim, vim-me nas costas dela e barrei-a com a faca da manteiga. Deixei secar até fazer crosta e chamei a polícia. Espero que apodreça na prisão.
domingo, 23 de dezembro de 2007
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8 comentários:
fodasse, 'es um senhor!
eu com a tua labia, o meu charme e o meu corpo comia as gajas todas que quisesse..
Detesto dizer isto, mas: Está Genial.
brilhante
andas a ler muito boris vian.
mt a frente!!
este blog está cada vez melhor. a escrita refina a olhos vistos. e eu só gosto de ler posts curtos...
parabéns. está....DO CARALHO!
LOL
(Mas os meus comentários não conseguem ser mais elaborados que isto??)
Grand Finalle!
gostei deste. ja li uns 50 posts de 2008 e ri'me imenso com alguns, tendo achado outros uma verdadeira javardice, que, tendo tambem piada, me repugna um bocado.
mas este post, sim, esta mt bom.
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