domingo, 17 de julho de 2005

o regresso da lentilha

Aaltra – Aaltra


Em França nada de novo...


Sim. Há mesmo um filme com este nome. Aaltra. Nós, os intelectuais, fomos vê-lo. Nós, os intelectuais, gostamos de cinema francês. Nós, os intelectuais, gostamos de filmes a preto e branco. Nós, os intelectuais, limpamos o rabo ao cinema americano.
Quando se atinge um determinado patamar em termos de beleza física – porque a outra não interessa para nada - um gajo não pode apanhar assim muito sol e tem de andar assim debaixo de guarda-chuvas. Para evitar que a beleza desapareça como areia entre os dedos da mão. Punheta. Urgia destruir o momento para que não ficassem a pensar que eu sou um desses paneleiros que gostam de poesia e cenas que rimam e malas de mão e sapatos cor-de-rosa daqueles de presilha e fivela. E também para as miúdas pensarem em mim como “um gajo que lê umas coisas” e até é sensível e tem um vocabulário muito além de “tipo”, “cena”, “meu” e “é um galão escuro, se faz favor”. Não que eu beba galões. A coisa mais burguesa que pode existir é o café com leite. Especialmente Mokambo e o outro que é apaneleirado e que não é bem café mas é uma cena que parece café mas é feito com palha e estrume de porco mas que parece que faz as pessoas acordarem e começarem o dia cheias de satisfação. Que tal um fax e uma mamada?
Podem perguntar e tudo por aí a ver se eu até nem estou agora a ler um livrinho. Daqueles com lombada rija e capa de pele.
A melhor maneira de não se apanhar sol é ir para o escurinho de um cinema onde a única luminosidade que pode aprofundar as ténues linhas que marcam a minha cara de princesa é aquela emitida pelo projector. Depois há que escolher o sítio. Monumental de tarde = betos. Alvaláxia de tarde = betos com namoradas betas e os umbigos de fora e os sacos de banha com furos a saltar por entre as coca-colas e as pipocas com mais gordura que esses furos de banha. King de tarde = fufas e miúdas que não se depilam e que têm um Abel Xavier privado debaixo de cada axila. Claro que, destes todos, o que eu gosto mais é de fufas. Gosto tanto que até tenho aqui um cd cheio de vídeos delas. Por isso fui ao King. E havia fufas e gajas de 40 anos com manchas na pele que já não casam e que vão acabar sozinhas a fazer tricô e a cheirar a mijo de gato e hão-de apodrecer dentro de caixões de pinho com roupas da secção de fufas do Corte Inglés. Isto tudo porque já têm a cara fodida de terem fumado tabaco carrascão, bebido gin tónico e passado as tardes na praia a escrever poesia altamente “fufíca”. Normalmente vão ao cinema umas com outras para não parecer que são pessoas infelizes e que o que realmente precisam é uma mega-queca mas a única coisa que lá entra é apenas sabão e as únicas que saem é uma mistura de pus mais espesso que maionese e restos de menstruações antigas e há muito terminadas.

Fiz de propósito para chegar mesmo em cima da hora. Para entrar já com a sala bem escura e as pessoas não pensarem que eu sou um desses tipos que vai ao cinema sozinho e que trabalha em call centers ou a tirar fotocópias naqueles sítios grandes onde se tiram fotocópias e se compram agrafos. Ainda tentei levar a minha t-shirt nova dos Motörhead para as miúdas pensarem que eu sou do rock e coiso. A verdade é que era a única que tinha que só cheirava um bocadinho a suor. Todas as outras tresandavam. Não que eu cheire mal. Mas gosto de vestir as mesmas t-shirts vários dias porque aqui em casa a roupa primeiro que seja lavada e engomada demora uma eternidade e os meus engates não podem esperar. Lavei-a hoje num alguidar que é usado para pôr o bacalhau de molho. E acho que ficou a cheirar a bacalhau.
E a propósito de comida, quando um gajo vai a um restaurante português e olha para a ementa e lê “febras com batata frita e arroz” fica a saber que se pedir esse prato vai levar com febras com batata frita e arroz. Da mesma maneira que se um gajo pedir “bacalhau cozido com grão” já sabe que vai levar com bacalhau cozido com grão. Não há que enganar. Mas porque é que um gajo quando vai a um restaurante indiano ou chinês nunca sabe que raio é o prato que está a pedir? O que é chao min? Para não sermos completamente desorientados põem sempre lá “chao min de frango” ou de “vaca” ou de “porco”. Um gajo já sabe que vai comer frango. Não sabe é com quê. Nos indianos as coisas ainda se complicam mais. Porque nem conheço a comida que têm e quando entram os tipos das rosas e dos brinquinhos e dessas cenas que piscam um gajo deixa de saber a quais dos “abduls” é que se há-de pedir “makhani palak masala kofta sabje raseela korma jalfrezi bhuna tikka rogan josh saag tandoori badam kulfi” que significa “um café e a conta” e a quais é que um gajo diz “tu outra vez? Não obrigado”.

Como o filme é a preto e branco, as legendas quase nunca se vêem. A minha sorte é falar tão bem francês como o Mário Soares e, como tal, não perdi pitada do filme que não passa de um gajo de barba e de outro mais ou menos normal que parece o Sean Penn, mais feio e muito menos cool, a irem desde França até à Finlândia em cadeiras de rodas tudo porque querem vingança dum grupo de terroristas que lhes mataram a família e os puseram naquele estado. Ou isso ou por terem tido um acidente com um tractor de marca finlandesa. Depois como são franceses conseguem dar cabo de todos os gags. Parece que toda a gente em França é tão má a fazer comédia como o Jacques Tati. Faltam-lhes lá o Nuno Markl e o seu soutien e o Milton e o Rui Unhas e o Camilo de Oliveira e o menino Tonecas e todos esses gajos que são levados da breca para lhes mostrar o que é uma barrigada de riso daquelas a sério.




Aaltra - :)

:O~ <- vómito (filmes tipo AI, Matrix 2 e 3)
:O <- filmes “preferia ter gasto a guita em cerveja, droga ou cigarros”
:| <- filmes “naquela”
:) <- filmes médio-fixe ou “nice”
:D <- filmes “cum gajo até acha que coiso e tal e diz aos outros para irem ver”
:D~ <- filmes que “sim senhoras”

6 comentários:

Anónimo disse...

ó ó.. acho q te vi no king.. ó se acho..

juvenal, o anormal disse...

:O
e és grelo?
e queres-me?
de 0 a 20 queres quanto?

Anónimo disse...

perdi a pachorra de ir ver filmes ao king. às vezes sai cada aborto...

agora vou lá mais pela livraria que é excelente. mas sem a t-shirt dos motorhead, eu só tenho uma dos paradise lost.

Montenegro disse...

hehe de volta às grandes criticas de cinema!!

Excelente o trabalho de pesquisa aturada sobre os restaurantes e os monhés.
O Abel Xavier vai ficar chateado por andar nos sovacos de tanta gaja, sem sequer dar por isso, mas azar o dele.
Filmes franceses bons eram os dos anos 70, inicios de 80, em que aparecia sempre uma gaja boa, com a relva por cortar à mostra... sim, porque naqueles tempos as gajas não cortavam a relva, junto à porta de entrada. :P

Anónimo disse...

Melhor do que o Cine222 com o seu cheiro altaneiro que me traz à memória a casa da minha avó e os tempos que por lá passei, não há.

Pena os ciclos da zero em comportamento terem terminado...

p.s e mesmo se o filme não prestasse podia-se sempre aproveitar e observar a fauna que por lá costumava poisar.

Anónimo disse...

Paralíticos..outra vez? Humm..