Enter the dragon – O dragão ataca
A insustentável leveza do ser
Em toda a minha vida posso-me orgulhar de ter cometido apenas três erros. Os verdadeiros erros são aqueles que um gajo faz com convicção porque acha que nunca se vai arrepender. Passo a enumerá-los e a descrevê-los (uma vez que enumerar seria só dar-lhes números e não os descrever): 1- ter desgravado um mega-programa de rádio feito por mim, pelo meu irmão e pelo Gustavo, o do Rocky, que tinha momentos únicos de humor como nunca mais serão feitos em Portugal, feito num rádio Phillips com um microfone daqueles de buraco do tamanho da separação dos dentes daquela miúda dos X-men que em “O Piano” roçou a crica numa árvore, para gravar um álbum dos Technotronic (eu é que usei a cassete para gravar o álbum dos Technotronic, não foi a miúda dos X-men que roçou a crica na árvore para gravar o álbum dos Technotronic) – ainda hoje sinto náuseas quando oiço aquela linha de baixo. Mas na altura os Snap e os Technotronic rulavam o mundo e um gajo obedecia; 2- desgravar o “Enter the dragon” para gravar pornografia para depois “mostrar ao pessoal” e também porque na altura não havia Internet e um gajo só conseguia ver porno em casa do S. (aposto que o interveniente quer anonimato, mas ele sabe quem é). Na escola tínhamos o maior consultor e especialista em pornografia na área que vai da Musgueira até à Calçada de Carriche. Nunca num vídeo, sob orientação do Consultor (como lhe chamarei daqui para a frente – e com C grande) entrou uma cassete de mau porno. Embora, nalguns meios, se negue a existência de mau porno. E é obra, em plenos anos 80, não se ver um único pêlo em qualquer rata. E alguns deles até tinham pretas (os vídeos, não os pintelhos). Também não se viam gajas feias ou tipos de pila pequena. A não ser quando vimos num vídeo da “Titchó”. Invariavelmente, havia cu porque, segundo o Consultor, o “ir ao cu” marcava uma determinada época. Qual plano-sequência do “Citizen Kane”. Nos 80s cu era cu e mai' nada. Tudo terminou porque, um dia, alguém fez desaparecer uma cassete que era dum clube de vídeo e que tinha aquele filme em que a Ana Zanatti come uma série de freiras. E depois teve de se pagar uns 5 contos. Não sem antes, o Monga (que era contínuo) dizer “isso se já não está aí é porque já foi c'os porcos”. Quem estava lá e viu assistiu à génese de uma nova expressão. Hoje para vocês parecerá comum “ir com os porcos”. Ali, em pleno 1989, até o ar faiscou. O uso do impessoal, ali em cima, é propositado até porque os intervenientes não querem ser lembrados de tal coisa. No 7º ano, 5 contos é muito dinheiro. Até para o Banha, que tinha família na alta finança, que uma vez mandou o almoço dum miúdo ao chão, que consistia numa sandes de ovo comprada no Eduardo, e não pagou. Por isso podem ver como era dinheiro. O Eduardo, que no fundo até era boa pessoa – assim um Darth Vader em forma de tipo que atende miúdos no bar da escola – ofereceu uma sandes ao miúdo e enxotou-nos com aquele olhar vítreo que só ele sabia fazer. O que não é difícil quando se tem um olho de vidro. Quem tinha o coração mais negro que o interior do olho do cu duma preta era o Artur. O Artur era um gajo fodido que não tinha qualquer papel naquela escola, a não ser fumar SG Filtro e ter AVCs. Nas horas de maior ócio, batíamos à porta do gabinete dele, que não passava de um cubículo – o gabinete, não o Artur – e fugíamos até alguém ser apanhado, levar um caldo e ser levado às mais altas instâncias daquela escola. No fim, o castigo era passar as quarta-feiras à tarde a jogar ping-pong. Nunca perdi a jogar ping-pong, nem na escola, nem em parte nenhuma. Nem matrecos. A jogar atrás; e 3- não ter convidado a metaleira do meu prédio de antigamente para ir comigo aos Megadeth, no Dramático de Cascais. Hoje não sei dela, mas ainda me lembro dos olhares que trocávamos quando eu usava a minha camisa de flanela azul, comprada na feira de Carcavelos, e ela a t-shirt dos Guns n' Roses do “Appetite for destruction” comprada numa loja no Metro do Rossio. São estas coisas que depois um gajo conta aos filhos com aquele ar triste de quem falhou na vida. Tudo por causa duma cassete ou de falta de desenvoltura para convidar uma miúda para um concerto. A verdade é que metaleiras há muitas e programas de rádio, como aquele, nunca houve nem nunca haverá.
A felicidade, até aos 16 anos, pode perfeitamente consistir em andar de skate e ver filmes de artes marciais. Eu andei de skate uma vez mas vi todos os filmes do Bruce Lee e do sósia, o Bruce Li. E, hoje, ainda considero o “Enter the dragon” o melhor filme de artes marciais de sempre. Inexplicavelmente, não está incluído naquela caixa que há por aí do Bruce Lee. No entanto, encontrei-o em edição especial de dois discos no Corte Inglés num daqueles fins de tarde em que fui fazer aquilo em que sou melhor. Gastar dinheiro e usar calças de ganga. Eu olhei para ele, ele olhou para mim e deu-se o Amor. O Amor também se deu por metade duma miúda que vi assim quando ia a descer umas escadas rolantes e a vi até perto do umbigo. Uma cena que distingue as gajas que são realmente da cena das que não são grande coisa é que as que são realmente da cena usam as mãos nos bolsos das calças de ganga de cintura descaída. Mas, e aqui é que está tudo, os dedos estão metidos nos bolsos só até aos primeiros nós e não é por terem os braços curtos. É porque são da cena. Como, no outro dia, quando me perguntaram como é que dava 150 euros por umas calças de ganga. E eu disse: “meu, um gajo ou é da cena ou não é”. Os intermédios é como “ir jantar ao chinês” ou “morar em São Domingos de Rana”. Mas mais que os primeiros nós dos dedos é como o fisting, já faz das gajas umas pêgas sem classe. Até mesmo só o polegar só assim pendurado já me destrói qualquer sonho. Voltando à gaja do umbigo, era uma fraude. Mais ou menos assim como o Jesualdo Ferreira. Ou a equipa do Porto, que não passa duma invenção dos media. Até porque toda a gente sabe que o Porto é o Benfica dos pequenitos. E segunda-feira nem houve recolha do lixo em Lisboa.
Sempre que vejo um filme de kung-fu, convenço-me que “aquilo até eu fazia” e ameaço toda a gente cá de casa com réplicas perfeitas dos golpes que acabei de ver. Evito golpes de maior envergadura pouco depois de tomar banho para evitar que o aroma a gel de banho e se espalhe e alguém se convença que eu sou daqueles tipos irritantes que cheiram a gel de banho e conseguem que o cheiro lhes permaneça no corpo até ao fim, mesmo nos dias de maior calor. É um pouco como os pretos mas ao contrário. Que às 8:30 já fedem dos pés.
E neste filme também há um preto. E um tipo penteadinho. E um gajo com uma luva como o Artur Semedo e uma gaja boa e chinesas. E a minha cena agora é espetá-lo numa chinesa enquanto ela cozinha num wok. Mas antes corto as unhas por que eu cá, quando há cu, ponho sempre primeiro o dedo a ver se “vem castanho”.
Enter the dragon - :D
:O~ <- vómito (filmes tipo AI, Matrix 2 e 3)
:O <- filmes “preferia ter gasto a guita em cerveja, droga ou cigarros”
:| <- filmes “naquela”
:) <- filmes médio-fixe ou “nice”
:D <- filmes “cum gajo até acha que coiso e tal e diz aos outros para irem ver”
:D~ <- filmes que “sim senhoras”
terça-feira, 22 de maio de 2007
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11 comentários:
e já te "veio castanho" ? atenção aos linguarudos!
patacôncio: essa piada final foi repetida pá.
e outra coisa... tu andaste naquele BURACO???? fonix. e a loja do metro do rossio... qual delas? havia duas: a torpedo e a xaranga... a xaranga depois mudou para o metro da rotunda do marques... holy shit isto é que é flashback
Enter the Dragon é, sem dúvida, o melhor filme de artes marciais de sempre. O Drunken Master, com o Jackie Chan, segue logo atrás. E eu fiz pior que tu: emprestei os dois acima mencionados, mais o The Deadliest Art - The Best of the Martial Arts Films e perdi-lhes o rasto.
Vi o filme da Zanatti com as freiras tinha eu uns 9 anos e... para meu espanto, o cavaleiro salvador era o Herman José - isto, na altura em que não era um porco inchado!
Cartas de Amor a Uma Freira Portuguesa... qualquer coisa assim, lembro-me agora...
a xaranga e a torpedo não eram no metro do rossio. eram no terminal de comboios do rossio. a loja do metro era uma loja de roupas e coisas do metal que pertencia a uns kefros... tipo o 67 mais acima, embora este não tivesse kefrôs... e a torpedo mudou para o martim moniz
tu nunca mais digas que és do rock se não fores ver metallica pra ir ver arcade fire :|
és tão mentiroso, já perdeste no pingpong cmg!
Agora andamos sempre naquela receita de sucesso aqui para o blog não é?
Já que também fui apanhado aqui neste post, parece-me importante dizer que já foste aviado (mais do que uma vez) a jogar ténis de mesa (muito melhor do que ping-pong) e "matrecos". tsc tsc tsc
E aqui acabou por se reunir a malta dos bons tempos passados...
LOOL
Quanto à verborreia que acabei de ler apenas tenho a lamentar que:
Na net é divulgada tanta estupidez e mentes estranhas.... tá tudo explicito à mão de semear...parece que estive a ler a mente de um gajo que está pedrado, bêbado e deficiente enquanto está a cagar um daqueles que entope o saneamento do bairro todo!!!
FODA-SE!!!!
Oi,
eu estava procurando a letra da canção "Fatal Flower Garden" e encontrei esse blog. Adorei os seus escritos, e nunca conheci nenhuma outra pessoa que fizesse referência a essa canção...Então é isso aí. Visite o meu blog, eu tenho lá um escrito sobre ela (na verdade sobre uma série de pinturas que ela inspirou).
bjs da colônia,
J.
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