quinta-feira, 26 de julho de 2007

crime e castigo

Death Proof – À prova de morte


Kill Plissken

Sou amante do Tarantino. Não no sentido de ele me ir buscar ao trabalho num descapotável e me levar a passear pela marginal em direcção ao CCB. No caminho, conto-lhe o meu dia. Do que programei em c# e ASP.NET. Daquele bug que afinal não era bug mas era a configuração do IIS que não estava correcta. Dos querys de SQL. Da Fátima da contabilidade que ficou de coração partido, quando lhe contei sobre nós e do miúdo do Congo que encomendámos pela Internet. Do melão queimado que servem ao almoço. Da contagem de germes afixada ao lado da caixa. Ele olha-me com um brilho nos olhos e cara de parvo. Está feliz. E eu também. O sol do fim de tarde projecta as sombras do queixo dele e do meu nariz a kilómetros de distância. Algures na margem sul, estragamos o espectáculo de sombras chinesas do Grupo Recreativo de Sombras Chinesas do Laranjeiro. Digo—lhe “baixa a capota que uma cara destas não se consegue a troco de nada e custa a manter e não quero ficar com rugas” e ele “i mean, don't fuck with another man's vehicle”. Nenhum de nós leva o cinto posto (afinal, é à prova de morte). Vou encostado debaixo do braço dele, suado em bola, a cheirar a Davidoff e a suor daquele que fede. Adoro a palavra fede. “Sábado fedi” mas foi por uma boa razão. Guia apenas com uma mão e mexo-lhe no umbigo cheio de cotão por baixo do pólo Ralph Lauren. Digo-lhe “ó Quentin, sabes que há cotonetes?” e ele responde-me “they look like a couple of dorks”. Paramos no CCB. No parque, porque ele não é daqueles pelintras que deixa o carro em cima do passeio por 2 euros. Subimos e acompanha-me até à esplanada antes de perguntar “fuck, nigga, what did you do to his towel?” e eu respondo “surpreende-me”. Ele aponta-me o indicador em forma de pistola e, fazendo cara de parvo, dobra duas vezes o polegar fazendo *click* *click* com a boca e, novamente, cara de parvo. Olho o rio e inspiro fundo. Um sentimento de felicidade invade-me mas consigo expurgá-lo antes de causar danos ou de começar a pensar nos Beach Boys e em como é bom ir à praia e andar de bicicleta ao fim das tardes de Verão. Volta e oferece-me uma cerveja de garrafa (sem copo) e um shot de whisky. Recita-me um poema e pede-me um lap dance. Derreto-me e digo-lhe “ó Quentin, tu sabes tratar um miúdo”. Ele faz cara de parvo e diz “garçon means boy”. Começo a pensar que ele tem mesmo cara de parvo e simplesmente não a faz assim só de vez em quando. Antes de começar a pôr em causa a nossa relação, falamos dos nossos planos futuros. De quando, em 2082, poderemos casar de branco. De ir viver juntos para os Anjos. Dos novos avançados do Sporting. Sim, porque ele agora gosta de futebol e é do Sporting. Temos ambos bilhete de época. Ele gosta do Derlei. Eu prefiro o Purovic. Eu digo-lhe “olha que ele no Benfica não fez um caralho” e ele “The path of the righteous man is beset on all sides by the inequities of the selfish and the tyranny of evil men. Blessed is he who, in the name of charity and good will, shepherds the weak through the valley of the darkness. For he is truly his brother's keeper and the finder of lost children. And I will strike down upon thee with great vengeance and furious anger those who attempt to poison and destroy my brothers. And you will know I am the Lord when I lay my vengeance upon you. I been sayin' that shit for years. And if you ever heard it, it meant your ass. I never really questioned what it meant. I thought it was just a cold-blooded thing to say to a motherfucker before you popped a cap in his ass. But I saw some shit this mornin' made me think twice. Now I'm thinkin': it could mean you're the evil man. And I'm the righteous man. And Mr. 9mm here, he's the shepherd protecting my righteous ass in the valley of darkness. Or it could be you're the righteous man and I'm the shepherd and it's the world that's evil and selfish. I'd like that. But that shit ain't the truth. The truth is you're the weak. And I'm the tyranny of evil men. But I'm tryin', Ringo. I'm tryin' real hard to be a shepherd.” e eu ”sim, também tens razão, ninguém no Benfica faz um caralho”. Eu conto-lhe do Simão ter ido para o Atlético e ele diz-me “you fuck my wife?”, eu rio-me e digo-lhe “ó Quentin, mas esse filme não é teu, é do Scorcese” e ele responde “they look like a couple of dorks” e eu “meu, já disseste isso lá em cima. Que tal algo do “Cães danados”? Ou até do “Jackie Brown”? Um gajo também gosta de ouvir um “wannafuckzinho” de vez em quando. A verdade é que eu sempre preferi o “Jackie Brown” ao “Cães danados". Sempre achei este último terrivelmente overrated”. Ele faz cara de parvo e confirmo que é mesmo assim e diz “uuuummm, this is a tasty burger”. O sol começa-se a pôr e reflecte nos olhos e no resto da cara de parvo dele que é mesmo, mesmo, mesmo assim. Não há volta a dar. Digo-lhe “pareces o leopardo” e ele “because of the metric system?” e eu “não, não o do Visconti mas aquele do 2001 que fica com um brilho nos olhos” e ele “my name is Buck and i'm here to fuck” e eu “parvo, pensei que me ias cantar Sérgio Godinho” e ele “you don't understand. I coulda had class. I coulda been a contender.” e eu “Kazan” e ele “Stellaaaaaa” e eu “Kazan outra vez” e ele “in the fifth, your ass goes down” e eu dou-lhe um Elaine's “getoutofhere” e digo “ainda ficas com a retina queimada como aquele bispo no livro do García Márquez” e ele “bitch, be cool” e eu “sim, estou só a armar-me para as miúdas lá do blog” e ele “mayonnaise”. Voltamos ao carro e leva-me a um restaurante no Guincho com vista para o mar. É um verdadeiro cavalheiro. Leva-me a jantar fora e não espera um broche nem me empurra a cabeça para baixo naquela de dar a entender que quer mesmo um broche. Não sinto nada duro. Apenas o cinto com uma águia e as botas de cowboy. Eu compreendo-o. Se tivesse um carro com bancos de pele também ninguém se masturbaria lá dentro. Porque mesmo quando um gajo põe um lencinho, aquilo escorre sempre. Ou então ensopa, desfaz o papel e molha. E depois há sempre a tendência de meter os papelinhos no coisinho do cinzeiro. E as gajas que têm carros e já fizeram isso, sabem que o cheiro a esperma refoga. E as vossas mães também já foram adolescentes e também já masturbaram tipos ao volante e notam o cheiro mas, sem o conseguirem localizar dizem, inconscientemente, “ainda andas com o Gonçalo?”. Claro que antes os assentos eram todos em napa e naquele outro material aos furinhos que vinha em todos os “Opeles”. Passava-se um paninho e saía. Mas um gajo que faz sempre filmes com gajas tão boas é superior a essas coisas. Nem diz daqueles “i love you”s do broche. Um gajo quando diz “amo-te” é porque vai pedir um grande favor ou quer um broche. Eu já amei muitas gajas, por isso sei do que falo. Nunca acontece de outra maneira. É como quando no outro dia me disseram “não deites a rolha fora” como se a garrafa de vinho fosse durar para além do jantar. Nunca aconteceu. Nunca acontecerá.
Há qualquer coisa num tipo que está a perder cabelo que me encanta. Ainda mais quando tenta disfarçar com aquele cabelo que se põe nos filmes que parece real só que não encaixa muito bem à frente e que só disfarça bem ao Sean Connery. Um gajo quando começa a perder cabelo tem de ter um descapotável. O meu dermatologista disse-me “tomas estes comprimidos e não tens nada com que te preocupar” e realmente parece que tenho um Tony Ramos particular em cima da cabeça. De vez em quando tira o pau. Consigo as gajas todas mas não tenho nada que fazer com elas. Felizmente, comprei um baralho de cartas e jogamos à bisca dos três.
Não acho que este filme seja nada de mais. Se calhar tinha as expectativas demasiado elevadas. E depois foi um bocado fiasco. Cheira-me que até o do Rodriguez, que nunca fez nada de jeito tirando o “Sin city” mas isso foi por causa do Frank Miller, vai ser melhor que este. E até tem aquela miúda dos Black Eyed Peas. Sonho um dia tocar xilofone nos abdominais dela. E o Tarantino só tem a Rosario Dawson de quem eu pensava, ainda a propósito do “Sin city”, “esta gaja nem é assim nada de especial” mas depois quando vi neste filme fique assim “fónix, man, granda cena ó o caralho”.
Então isto é carros e shots. E o Kurt Russell a espetar-se em carros com miúdas boas lá dentro. E a música do costume. Aqueles clássicos que já ninguém se lembra mas que ele vai sempre buscar e regressam em grande. É apenas uma homenagem aos filmes série b e penso que só o Tarantino se safaria com um filme destes.

Ah, a propósito, folheei ontem o último livro do Harry Potter e não é ele que morre, pois tem duas falas na última página.

Death proof - :)

:O~ <- vómito (filmes tipo AI, Matrix 2 e 3)
:O <- filmes “preferia ter gasto a guita em cerveja, droga ou cigarros”
:| <- filmes “naquela”
:) <- filmes médio-fixe ou “nice”
:D <- filmes “cum gajo até acha que coiso e tal e diz aos outros para irem ver”
:D~ <- filmes que “sim senhoras”

13 comentários:

Anónimo disse...

isso é que é escrever..

cumpz

Anónimo disse...

Digo-te que comecei a ler o teu blog faz agora uma semana, e desde então tenho andado a ler o que está para trás. Vou em Dezembro 06...e tenho a dizer que és como o vinho do porto...
Gostei deste post apesar de ter muitas poucas falas do Kill Bill,mas o que conta é a intenção.
Continua ;)

Anónimo disse...

Oh Juvenal...Foda-se!!Não se faz!!Ando eu a conter-me para não ler o raio do último capítulo do Harry Potter e tu vens e escreves uma merda dessas! Fiquei lixada! Ainda por cima nem sequer havia aviso de "spoiler". Tá mal!

Anónimo disse...

Falhada, queres fazer coisas comigo?:|

maria cachucha disse...

já li os dois últimos capítulos do potter. sei toda a gente que morre, todos os twists ranhosos à chuck palahniuk, as vinganças à telenovela mexicana e o quem-fica-com-quem final.
se te contar tudo, dando-te, portanto, material de sacanço e/ou de enraivecimento generalizado de amiguinhos para os próximos três meses, escreves "era um beijinho para a maria cachucha" no próximo post?

Anónimo disse...

Tchi Nuninho...Bad timing. Acabei agora a minha hora de almoço. Fica para a próxima.

tiagugrilu disse...

Grande texto.

Não sabia, mas agora sei. Também sonho tocar xilofone nos abdominais da Fergie. Fergalicious, indeed.

p.s.: Nem o Dr. Casa faria melhor com o livro do Harry Potter. Curti.

Anónimo disse...

Já não era sem tempo que o harry potter morre.

O filme é bom demais. Juvenal não pescas nada.

Padawan disse...

Quem pensa que a Rosario Dawson não é nada de especial só pode ser gay ou cego. E como não és cego, deduzo que és um rabeta do caralho.

Enganaste-te na fala do Jules. Falta uma palavra algures. É o que dá fazer copy paste do IMDb. Mas deixa lá, podia ser pior. Podia dar-te para levares no cú ou uma merda assim.

juvenal, o anormal disse...

não imaginei que alguém fosse ler aquilo. toda a gente ia ver "ah, é a cena do preto e dos filisteus". e, duma vez por todas, cu não tem acento.

Nórdico disse...

meu ... tás cada vez melhor ... Em grande mesmo.

Padawan disse...

Claro que não tem acento. Era só para ver se estavas atento, ou se, como no post, mostrarias um descuido próprio de gentinha.

Anónimo disse...

É o Harry Potter que morre, as últimas duas falas foram "Foda-se, acertou-me!" e "Que chatice, já não volto a ver os Morangos..."