quarta-feira, 11 de julho de 2007

take it easy, baby

Marie Antoinette – Maria Antonieta


Ó virgem, suicida-te.

Eu joguei Subbuteo e isso faz de mim um entendido em tédio. Como não sabia as regras, os bonecos moviam-se infinitamente tornando cada jogada num longo período de 20 minutos. Isto quando não acabava tudo à estalada e se espezinhava os bonecos todos. Até que veio o Careca e explicou como se jogava Subbuteo. E que afinal aquilo tinha regras e não era só atar e pôr ao fumeiro. O Careca era a versão pre-teen do Rui Santos, sem pintelhos e brilhantina, mas com uma testa do tamanho dum transferidor. Sabia tudo o que havia para saber sobre futebol. Para o Careca a bola não era redonda, não havia apenas 11 jogadores de cada lado. O futebol estava para além daquilo que se vê. Havia ciência. Havia ondas de energia que flutuavam entre os jogadores e a bola e o público. Quando eu gritava “chuta, chuta, parvalhão”, o Careca dizia “dali não tem ângulo”. Ele tinha vergonha de ir comigo ao futebol. Para mim a única coisa que tinha ângulos eram as figuras geométricas. Não conseguia ver ângulos num remate ou numa jogada. Depois também se podia meter a bola ao ângulo. Que não era o mesmo ângulo, era outro. E, às vezes, mesmo quando não se tinha ângulo, podia-se meter a bola ao ângulo, como fez o Van Basten. Para ele era Marco Van Basten. Para mim era Gullit. Para ele era Ruud Gullit. Saber os primeiros nomes era saber de futebol. Foi com o Careca que aprendi a “picar” uma bola, foi com o Careca que aprendi o que era um fora de jogo (explicado com rodelas de cenoura, no tabuleiro do refeitório, entre o empadão de bacalhau e a mousse de chocolate de pacote), o que era uma “abertura” (que depois o Camola, que foi a primeira pessoa a quem enfiei um soco na fronha, transformou em “abertuuuuuuuuura” mas não por muito tempo porque alguém que vem aqui ler isto fez-lhe uma entrada a pés juntos que o meteu no estaleiro durante o último período do 7º ano e os dois primeiros períodos do 8º). O Careca tinha uma folha de Excel onde anotava os nomes de todos os jogadores de todas as equipas das duas principais divisões. Marcava resultados. Sabia que o 4-4-2 se podia transformar num 4-3-3, caso os médios-ala convergissem para o miolo e os trincos abandonassem o eixo. Para mim, que sempre fui um gajo das ciências, um eixo podia existir praticamente em qualquer sítio e não havia diferença entre um defesa de marcação e um defesa de zona. Mas havia. E as diferenças podiam ser desastrosas, caso não se compreendesse as implicações daquilo tudo. Ele tentou explicar-me. Mas eu sempre gostei de futebol de ataque. De jogar à mama, como o Magnusson. De marcar aqueles golos à cabrão que era só empurrar quando a jogada e o remate tinha sido de outro. Especialmente quando eram do Cego. Que fintava sempre com uma mão nos colhões. Consta que o Cego tinha uma pila do tamanho dum braço. E se calhar era para não abanar tanto. Os tansos é que iam à defesa. Os tipos que tinham dois pés esquerdos. Os que “não jogam lá muito bem mas são 'muita' bons a atrapalhar”. Eu era destes. Mas estive presente, a avançado centro, quando, na 3ª classe, ganhámos 17-1 aos gajos da 4ª. Que no fim, com o mau perder, começaram a passar a bola do defesa para o guarda-redes. Mas o resultado estava feito. E o Carlos, que era o árbitro disse : “vocês é que se fodem”. E foi a primeira vez que a Joana Freitas olhou para mim sem aquele olhar de nojo que a caracterizava. Especialmente quando olhava para mim. Acho que nunca esqueceu o facto de eu lhe vomitar parte do cabelo na visita de estudo a um sítio onde se fazia pão ao pé de Mafra. Ainda hoje penso nela e se não teríamos sido felizes, não fosse o incidente do vómito. Mafra já me dava vómitos muito antes de lá ir. O nome Mafra. Mafra cheira a celulose. E mais aquela terrinha que se chama não sei o quê da Serra. E que depois tem outra que existe para outro sítio que é muito parecida mas que não é “da Serra” é lá do caralhotafoda. Acho que se nota que gosto de dizer caralhotafoda. Caralhotafoda, caralhotafoda, caralhotafoda. É doutro sítio qualquer. Quase tudo o que fica para lá da Calçada de Carriche causa-me vómitos. Qualquer terrinha que tenha um restaurante onde se almoce ao Domingo. Onde “a chanfana seja daqui *mexer na orelha*”, que tenha pratos “à padeiro”, que me lembre o cheiro a Opel novo, a frase “não és tu que gostas de manga, A.?” (A., efeito do 'Crime e castigo'), o toldo azul daquele restaurante em Sesimbra onde havia arroz de tamboril e que depois uma vez estava estragado e a minha avó disse “prefiro comer uma sandes de fiambre a comer arroz feito à 'raistaparta'”. A minha avó é que a sabia. Não metia a manteiga no frigorífico porque assim é que se espalhava bem, tinha sempre carcaças e pão de forma. Daquele mesmo de forma e não do outro que agora se vendem pacotes para os miúdos irritantes. Ainda hoje dou por mim a sentir a falta dela. É estranhíssimo para quem não tem sentimentos.
Acho que é por isto que aos domingos não saio de casa. Ou isso ou por causa das ressacas monumentais que costumava ter. O uso do pretérito é propositado. O gin tónico bem que pode derreter o fígado e “qualquer dia começas a escamar das mãos e a ter manchas daquelas amarelas na testa” , mas o gin tónico leva-me “lá” sem o mínimo de ressaca. Voltei a conseguir divertir-me e tudo graças a ti, gin. Se fosses mulher e não me moesses o juízo, convidar-te-ia (não tentem) a irmos viver juntos. Na Graça, na Penha de França, em Arroios com vista para a Almirante Reis. Eu, que gosto dos Kiss, achei sempre que aquelas coisas que os gajos da música dizem “we love you all”, “we are so glad to be here tonight”, “you are the best” era tudo treta. Mas os Kiss começavam o “Cold gin” dizendo que era a única coisa que “can get you there”. É verdade que já alucinei com whisky a mais. Que já corri do Chiado ao Marquês de Pombal por causa duma ganza que estava estragada e ainda por cima mal enrolada. Mas gin é gin e mesmo com o charme a 20% já consegui que a empregada do Suave me mostrasse as mamas na casa de banho.
Por falar em mamas, tudo o que pode haver de bom neste filme é ver-se a Kirsten Dunst nua. Duas vezes de costas e depois um mamilo assim quase a saltar. E ela é tão má actriz como boa de rabo. Não deixa de ser verdade que tem aquela cara de pãozinho sem sal e os dentes metidos para dentro. E logo eu que sou obcecado com dentes, com o Português e com o achar que tenho sempre um macaco a sair do nariz. E com chinesas. Daquelas magrinhas que se sentam com a perna traçada e agitam o pé de cima ao som lá da banda de rock chinês que devem estar a ouvir na imitação de iPod que têm. Comprado nos chineses. São perfeitas para andar de metro, as minhas obsessões. É perfeito para a estação do Martim Moniz, enquanto uma desdentada daquelas que compra roupa por atacado a 2 euros e que faz sempre conversa com quem quer que se sente à sua frente “então e quanto é que 'pagastes' por isso? A mim não me fodem eles. Comprar roupa na 'Sara' por 10 euros para estar toda fodida no fim do Verão...ná. Eu cá vou ali ao Martim Moniz. Diz que os ciganos compram isto aos sacos e depois é por isso que vendem tão barato. É uma pena é cheirarem tão mal. Sabe que o cheiro a cigano ainda custa mais a sair que o cheiro a preto”.
Se no metro se aprendem algumas coisas, é perto dos quiosques que se apanham as grandes frases que fazem começar bem o dia. Sexta, quando me aproximo para comprar o Público, um velho que olhava para uma revista daquelas da treta com o Cristiano Ronaldo na capa lança a seguinte frase para quem quisesse ouvir: “este cabrão deve foder tanto”. Estive para lhe responder que eu bem que me masturbo, mas o máximo que fui notícia foi no boletim da escola, quando fiz anos. Achei melhor estar calado porque não se deve irritar os bêbados logo de manhã.
O parágrafo anterior tinha um seguimento e um raciocínio encadeado (mas desencadeou-se) que levaria toda a gente a um sentimento reconfortante de alguma coisa bem explicada. A cena é que me embrulhei com vírgulas e aspas a mais e já não sabia muito bem como continuar e ainda tenho de ir fazer a barba que isto agora de ter patrão é lixado. E já são 1:01. E o mais triste de tudo é que a minha lista de música é a música do Kane do wrestling a tocar em repeat. Isto não ajuda ao meu estado actual. As cuecas em cima da cama também não. Até porque têm uma mancha de suor em forma de funil. Não sei como aconteceu. Eu até nem suo.
Eu gosto de ser o primeiro por quem o filme passa. Ser o único na fila mais à frente. Do género, primeiro o conhecimento passa por mim e só depois chega aos outros que se espalham para trás, se eu aprovar. A foda do Nimas é que as betas do Técnico agora também lá vão. E sentaram-se do meu lado direito. Mais umas bichas quarentonas do meu lado esquerdo, qual Cristo na última ceia. Estavam ali porque não tinham mais nada que fazer e são daqueles que fazem sempre questão de aparecer nas fotografias. Deixá-los.
A foda de ser rei deve ser o protocolo todo. Um gajo vai a qualquer lado e depois vêm sempre pessoas atrás e nunca deixam que um gajo se vomite todo e possa subir em paz para cima dos carros e gritar disparates como “a audácia é a infelicidade dos néscios”. Eu, que fui rei da festa de finalistas na minha escola, bem que me fodi. Calhei com a Joana Mamede que era a única tipa que não deixava que um gajo lhe metesse a mão por dentro das cuecas. Quando fui dormir, era o único do bairro que não tinha nada para cheirar.


Marie Antoinette - :O

:O~ <- vómito (filmes tipo AI, Matrix 2 e 3)
:O <- filmes “preferia ter gasto a guita em cerveja, droga ou cigarros”
:| <- filmes “naquela”
:) <- filmes médio-fixe ou “nice”
:D <- filmes “cum gajo até acha que coiso e tal e diz aos outros para irem ver”
:D~ <- filmes que “sim senhoras”

11 comentários:

Pedro Oliveira disse...

Grande texto, penso que nunca na vida se tinham juntado no mesmo texto as palavras, Mafra, Almirante Reis, iPod e vómito.

Bem, mas eu vim aqui foi para dizer que fiz referência ao teu blog no meu Ramalho, http://blogdoramalho.blogspot.com/2007/07/mais-blogs-visinhos.html

Cumprimentos

Rita Ochoa disse...

"visinho" é com Z ...

Goiaoia disse...

e "Xena" devia ser com cê agá

Anónimo disse...

asdrubal, mas a gaja do suave e lisa como uma tabua!

Anónimo disse...

finger eleven é fixe

jg disse...

Juvenal, não há quem ta foda.
(o "ta" vale "te" mas le-se "ta")
Que parênteses mais anormal....
E também te digo, um gajo no fim de ler o teu post, que te deve ter dado uma trabalheira do caraças (mesmo produzido na hora do patrão) e como comentário limita-se a fazer reparos ortográficos deve pertencer ao grupo de pessoas que tem o hábito de dobrar muito bem as cuecas e de as pousar ao fundo da cama antes de começar a foder.
Por mim, cagava-me para esses comentadores.
Bota a moer!!!

José Risques disse...

Prefiro ficar 2h a ver a Lili Caneças vender joias que a ver um filme da Sofia Coppola, só faz merda que os pseudo-intelectuais acham uma cena bue transcendente, as Virgens Suicidas é uma ganda (com A) merda, o Lost In Translation é uma valente merda, tava-se mesmo a ver que este Marie Antoinette vinha completar a trilogia (sim porque agora é moda ser uma trilogia).

Quando o pai dum gajo (gaja)faz o "Apocalypse Now", o melhor que o filho (filha) tem a fazer, é escolher uma profissão diferente porque tudo aquilo que fizer, por comparação há.de ser 'ma merda.

Juvenal, tás lá (com ou sem Gin).

Rita Ochoa disse...

Xena é o nome de uma personagem da mitologia grega adaptado para uma personagem de televisão de uma série gravada na Nova Zelândia que explora a história de uma guerreira que por mais de 10 anos foi uma das piores vilãs da Grécia e que agora tenta redimir-se ajudando todas as pessoas.

Quer na Grécia, quer na Nova Zelândia, os gajos não curtem muito os cês agás...

Anónimo disse...

Fui eu que enviei o Camola para o estaleiro! Ainda hoje me lembro daquela entrada e do choro. Lindo!

Anónimo disse...

gin tónico??? fdx que bebida mais paneleirada.... cerveja é que é de homem...

tiagugrilu disse...

2 recordações que também tenho:

- A seca de jogar subbuteo
- Dizer "caralhotafoda"

(que tinha a não menos célebre resposta: "a ti e à tua família toda")

Lindo.