domingo, 29 de junho de 2008
i just don't know what to do with myself
Perto do Camões uma estrangeira perguntou-me: "how is this monument called?". Tive de lhe responder: "André Quaresma".
y viva españa
A qualidade de um tasco é proporcional ao som que as pessoas fazem a mastigar o bitoque.
the whole world's got the eyes on you
ele:
já cagaste?
eu:
não consigo:\
eu:
já estive a ver vídeos do benfica no youtube
eu:
mas a vontade não vem:\
já cagaste?
eu:
não consigo:\
eu:
já estive a ver vídeos do benfica no youtube
eu:
mas a vontade não vem:\
sábado, 28 de junho de 2008
aspide
I'll do the dishes if Jeremy irons.
hanging on the telephone
ele:
que fazes hoje?
eu:
vegeto
ele:
então?
eu:
vou ficar no sofá
eu:
a ter pena de mim próprio
eu:
e a chorar que nem uma menina
que fazes hoje?
eu:
vegeto
ele:
então?
eu:
vou ficar no sofá
eu:
a ter pena de mim próprio
eu:
e a chorar que nem uma menina
off the hook
Cancro da mama também é uma boa maneira de continuar a passar no teste do lápis.
drinking the night away
Prometo que um dia, daqui a muitos anos quando ainda for mais infeliz e sozinho, me vou tornar naqueles velhos que, de calças brancas e sapatos em bico, se embebedam no Galeto, com meias de tinto e whisky novo a seguir à canja molhada com carcaça e às fatias de pão torrado com manteiga e que são acompanhados a casa pelo empregado que nos dá pancadinhas nas costas e diz "a vida é mesmo assim, senhor Q.".
quinta-feira, 26 de junho de 2008
there is a light that never goes out
Eu: "Gostava mesmo de jogar à batata frita com o meu primo".
Ele: "Porquê? Tinha bons reflexos?"
Eu: "Não. Tinha bócio".
Ele: "Porquê? Tinha bons reflexos?"
Eu: "Não. Tinha bócio".
terça-feira, 24 de junho de 2008
andre the giant
Consta que a Lua, quando está mais próxima do horizonte, parece maior porque o nosso cérebro tende a compará-la com objectos que estão próximos.
Quando me tornar a despir ao pé duma gaja, hei-de abrir a edição ilustrada de "As viagens de Gulliver", no capítulo dos lilliputianos.
Quando me tornar a despir ao pé duma gaja, hei-de abrir a edição ilustrada de "As viagens de Gulliver", no capítulo dos lilliputianos.
beering after work
Quando me disse que na fotografia da carta de condução estava diferente e que até as feições pareciam outras, tive de lhe dizer que isso era do meu pai me bater. Com força. Na cara.
this means war
Há três fases na vida da mulher. A fase em que passam no teste do lápis, a fase em que não passam no teste do lápis e a fase em que não passam no teste do estojo de lápis.
domingo, 22 de junho de 2008
blue thunder
Ela: "Estava uma gaja na casa de banho com um penso no olho".
Eu: "Descaiu?"
Ela: "Na vista, meu".
Eu: "Descaiu?"
Ela: "Na vista, meu".
tropical malady
Ultimamente, quando vou ao Incógnito, fico sempre a pensar se o servidor de World of Warcraft não estará em baixo.
quinta-feira, 19 de junho de 2008
crimewave
Ela: "É verdade que guardam a tua irmã numa jaula na despensa por ela ser deficiente?"
Eu: "Não. Guardamo-la na despensa porque a deficiência dela não condiz com os cortinados".
Eu: "Não. Guardamo-la na despensa porque a deficiência dela não condiz com os cortinados".
roses and razors
Eu: "O meu avô só tinha quatro dedos em cada pé".
Ela: "E isso afectava-o?"
Eu: "Não. Mas às vezes apanhava o 18 para as Amoreiras em vez do 20 para o Calvário".
Ela: "E isso afectava-o?"
Eu: "Não. Mas às vezes apanhava o 18 para as Amoreiras em vez do 20 para o Calvário".
lady cobra
Eu: "Isso do bilhar faz-me lembrar o meu avô".
Ela: "Jogava muito?"
Eu: "Não. Também tinha três bolas".
Ela: "Jogava muito?"
Eu: "Não. Também tinha três bolas".
domingo, 15 de junho de 2008
rock lobster
Esta história passa-se quando as coisas ainda custavam em escudos. O escudo era a moeda de antigamente. Com que se pagava os cigarros sem filtro (“Kentucky? Kentucky não temos. Temos é Kentucke”) comprados na Estrela do Lumiar (que era o café do Sérgio e que depois as pessoas diziam “desde que fizeste obras no café que achas que és o maior”), os chocolates e as sandes de ovo do senhor Eduardo. A Estrela do Lumiar tinha os piores bitoques. Mas fizémos questão de lá almoçar dois períodos. Em parte porque tínhamos vergonha de nunca mais lá aparecer e passar apenas à porta e olharem para nós como os tipos que antes vinham cá mas agora acham-se muito bons, os fidalgos. O pessoal mais fixe ia ao Centro Comercial do Lumiar. Comer hambúrgueres com cebola.
Joaninha gostava muito das sandes de ovo do senhor Eduardo. Fazia sempre delas almoço. Isso e um Caprisone. De maçã. Tinha nojo de ir à cantina desde que o Jorge lhe dissera que a comida era feita com os restos dos que trazem comida de casa. Sempre tudo picado e com esparguete. Nos pratos de plástico e com os garfos ainda com pedaços de couve naquele bocado onde os dentes dão a curva. As sandes de ovo do senhor Eduardo tinham salsicha cortada às rodelas. “Porquê?” - perguntou a Joaninha- “Porque não mete a salsicha só depois?”. O senhor Eduardo disse que gostava muito de meter a salsicha depois e fez *shhlheee* puxando a saliva de volta dos cantos da boca para dentro e *mmmti mmmti* para saborear depois e apertou aquela covinha a seguir à glande entre o polegar e o indicador, por trás do balcão. Sem ninguém ver. Joaninha riu-se e pensou que gostava mais da salsicha de fora sem nunca se aperceber da carga sexual do diálogo que acabavam de ter. Mas não disse nada. Muito menos imaginou que, um dia, o senhor Eduardo haveria de a esperar à saída da escola com a faca de cortar o queijo e as unhas das mãos (“que era só para assustar”, como diria mais tarde no interrogatório) e violá-la até lhe deixar o cu em sangue e deixá-la, abandonada, atrás do contentor de reciclar os plásticos. Com as cuecas de algodão pelos joelhos, empapadas em sangue, esperma e bocados de sandes de ovo com salsicha e fezes, pois eram quase quatro e vinte cinco. Quase a hora a que costumava ir cagar. Não se apercebeu muito bem do que aconteceu. Pelo menos até, no hospital, o pai dela dizer “claro que dói. Levaste aí com uma verga”. Mas isso garantiu-lhe que tinha sido a primeira da turma a fazer cu. A Marta Dias, invejosa, dizia que não tinha contado. Porque não sei o quê e não sei que mais de o senhor Eduardo ser velho e não ter havido consentimento e mais não sei o quê.
O senhor Eduardo gostava de cus apertados e sem pêlos. Bem tinha dito à mulher: “corta lá isso que, quando aí vou a seguir a cagares, parece leite coalhado”. Ela ignorou-o. Afinal já eram casados há mais de vinte e cinco anos. Já não interessava. Já nada interessava. Faziam sempre com ela por baixo, enquanto lia um livro. Tinha acabado bibliografias completas assim. “Demorei três quilómetros de pila a ler o último da Isabel Allende”. Costumava dizer às amigas. Deixava-o aviar-se para não levar nos cornos. Já nem o entrançava com as pernas. Deixava-se ficar. Quando ele se vinha, depois de ofegar alarvemente em cima dela e dizer “coisa boooa”, deixava-o escorregar para o lado e sentia-lhe o pénis húmido e curto na perna e esperava que começasse a ressonar para, depois, se deitar de lado. Apertava bem as pernas até se ouvir *prfft* e sentir o esperma quente a escorregar-lhe da reganheira para cima da cama. Contava até duzentos. Ou melhor, duas vezes até cem. Porque até duzentos perdia-se. Duzentos era o tempo que demorava até embeber os lençóis. De manhã estava seco e gostava de fazer estalar o lençol, como se fosse aquelas bolinhas de plástico que vêm nas encomendas de coisas da tecnologia e que as pessoas gostam muito de estalar, ou de raspar com a unha e tirar bocados inteiros que depois deixava cair no chão de tijoleira onde fazia *criic*. Já não se levantava para ir lavar. Nem mesmo com um lenço. De manhã saíria o resto. Quando fizesse força para cagar. Sempre de manhã, a seguir às torradas com doce de abóbora que a mãe lhe enviava todos os verões da terra (o doce, não as torradas). Cagava bolinhas que pareciam cachos de uvas siamesas e faziam *ploc* ao cair na sanita. Chorava e costumava lembrar-se de quando eram felizes. Quando saíam todas as noites para ir beber um bagaço e uma meia de leite, a seguir ao jantar, ao café do Antunes. Como o senhor Eduardo lhe apertava a celulite por cima das calças de fato de treino e lhe metia um dedo no cu, na frente do balcão, enquanto pedia. “Era um bagaço e uma meia de leite aqui para a madama”. E usava esse mesmo dedo, porque tinha aderência, para tirar a nota de quinhentos do elástico com que pagava. Sentia uma comichão lá em baixo. E esperava ansiosamente que voltassem para casa para fazerem o amor. Quando ainda não tinha lavado os dentes, faziam o amor com a boca, como lhe chamava. E cuspia esse amor para o penico por esvaziar, já de vários dias. O cheiro a urina acalmava-a e desentupia-lhe o nariz. Às vezes, deixava que lhe fosse ao cu. Mas nunca se vinha lá dentro porque não queriam um filho preto. Às primeiras sextas de cada mês, iam jantar um bitoque e uma garrafa de Casal do Verniz. O senhor Eduardo gostava de molhar a carcaça no molho que ficava no prato. Na brincadeira dizia, “ó Antunes, pode já metê-lo de novo no armário”. Pagava duzentos mérreis por um whisky novo e dizia sempre “que granda pomada que aqui tem, ó amigo Antunes”. Sabiam que eram feitos um para o outro porque não tinham os dois o mesmo dente a seguir ao canino, em cima. Dava para prender o cigarro ou o lápis enquanto faziam, juntos, a contabilidade do café da escola. “Setecentos mérreis e vão dois, com nove faz vinte e quatro”. Desde que fazia sandes de ovo na frigideira redonda dos bifes grandes “como os meus”, dizia a senhora senhor Eduardo, na brincadeira antes de bater “lá em baixo” com a mão aberta e fazer *flop flop flop*, que o lucro tinha vindo a aumentar. Cada oveleta dava para catorze sandes. Ou, como o meu avô gostava de dizer “oito e sete é catorze ou quatorze?”. Era quinze. Dava sempre para rir um pouco. Pelo menos até a minha avó ter outro AVC durante o jantar e termos de ir buscar os cabos de carregar a bateria para pô-la de volta connosco. Catorze sandes porque as dos cantos só davam para uma. Se é que uma frigideira redonda tem cantos. Mas não tinha pensado nisso até este ponto e não me parece boa ideia voltar atrás com isto tudo. Até porque é menos um parágrafo e isto de ter ideias assim não é todos os dias e não me quero sentir outra vez vazio como os tomates de um preto depois de se vir durante um gang rape. Gang rape é redundância. Toda a gente sabe que os pretos, quando se vêm, é durante violações em grupo e a fazer “fffffáaaaaaaaaa” com os lábios gigantes onde tropeçam com os ténis de jogar o basket a feder a chulé.
O senhor Eduardo era boa pessoa. Tinha princípios. Limpava sempre a unha do dedo pequeno depois de dividir a oveleta em catorze. O seu pequeno canivete suíço, como gostava de dizer, na brincadeira. Com um palito e uma cotonete com acetona. Aparava também as peles do dedo do meio (“o dedo da Maria”) com um corta-unhas com o galo de Barcelos para não arranhar. Costumava cheirar por baixo da unha, quando tinha saudades. O cheiro a cona e a alho são dos mais difíceis de tirar. Dos dedos, pelo menos. Eu sei porque meto sempre alhos em tudo e depois passo o dia a cheirar. E, quando guiava a seguir a um finger fuck (para aí em 1995 ou 1996), fazia-o sempre de mãos abertas e dedos esticados porque, muitas vezes, o carro não era só meu e eu também sou um tipo com princípios e, das duas uma, ou tocava só assim por cima das cuecas sem fazer muito *schloc* *schloc* ou se metesse assim até aos nós, passaria sempre as mãos pela água do repuxo dos limpa-pára-brisas. Era um homem pacato, amigo do seu amigo. Com um emprego honesto que contava passar ao filho. “Eduardo e filho, sandes de ovo” ou “Eduardo das sandes de ovo e filho”. Ainda estava por decidir. Gostava mais do segundo. Mas o primeiro dava mais ênfase ao filho. E toda a gente sabe que a família é o que mais importa. A família e os valores e essas cenas.
Foi um choque quando aconteceu. Quando o vieram buscar. Ainda tapou a cabeça com o casaco de ganga. Como via na televisão sempre que iam buscar um violador. Mas isso destapou-lhe a camisola que dizia “Eduardo das sandes de ovo”. E toda a gente pôde ver quem era. A sogra disse logo “ele a mim nunca enganou”. Como se soubesse que seria este o seu fim.
O julgamento foi curto. O senhor Eduardo ainda se defendeu. Mas frases como “ela gostou” e “alguém tinha de ser o primeiro” não caíram bem na sala. Não mostrou nunca arrependimento. Acabou por se suicidar com seis facadas no peito. Duas delas no coração. O seu café da escola fechou. Agora só se podia comer na máquina. Joaninha foi para a universidade. Tirou um curso qualquer daqueles que não dão para nada e sempre que levava no cu recordava-se do sabor das sandes de ovo do senhor Eduardo. Nunca lhe tinha querido mal.
À senhora senhor Eduardo já não restava nada. Estava velha e enrugada do sol dos verões que passavam no avançado da cunhada na Costa da Caparica. Tinha comprado o amor em plástico. Mas no fim chorava sempre. Sentia falta do seu Eduardo. Sentia falta do seu esperma quente a pingar-lhe da cova do amor.
Joaninha gostava muito das sandes de ovo do senhor Eduardo. Fazia sempre delas almoço. Isso e um Caprisone. De maçã. Tinha nojo de ir à cantina desde que o Jorge lhe dissera que a comida era feita com os restos dos que trazem comida de casa. Sempre tudo picado e com esparguete. Nos pratos de plástico e com os garfos ainda com pedaços de couve naquele bocado onde os dentes dão a curva. As sandes de ovo do senhor Eduardo tinham salsicha cortada às rodelas. “Porquê?” - perguntou a Joaninha- “Porque não mete a salsicha só depois?”. O senhor Eduardo disse que gostava muito de meter a salsicha depois e fez *shhlheee* puxando a saliva de volta dos cantos da boca para dentro e *mmmti mmmti* para saborear depois e apertou aquela covinha a seguir à glande entre o polegar e o indicador, por trás do balcão. Sem ninguém ver. Joaninha riu-se e pensou que gostava mais da salsicha de fora sem nunca se aperceber da carga sexual do diálogo que acabavam de ter. Mas não disse nada. Muito menos imaginou que, um dia, o senhor Eduardo haveria de a esperar à saída da escola com a faca de cortar o queijo e as unhas das mãos (“que era só para assustar”, como diria mais tarde no interrogatório) e violá-la até lhe deixar o cu em sangue e deixá-la, abandonada, atrás do contentor de reciclar os plásticos. Com as cuecas de algodão pelos joelhos, empapadas em sangue, esperma e bocados de sandes de ovo com salsicha e fezes, pois eram quase quatro e vinte cinco. Quase a hora a que costumava ir cagar. Não se apercebeu muito bem do que aconteceu. Pelo menos até, no hospital, o pai dela dizer “claro que dói. Levaste aí com uma verga”. Mas isso garantiu-lhe que tinha sido a primeira da turma a fazer cu. A Marta Dias, invejosa, dizia que não tinha contado. Porque não sei o quê e não sei que mais de o senhor Eduardo ser velho e não ter havido consentimento e mais não sei o quê.
O senhor Eduardo gostava de cus apertados e sem pêlos. Bem tinha dito à mulher: “corta lá isso que, quando aí vou a seguir a cagares, parece leite coalhado”. Ela ignorou-o. Afinal já eram casados há mais de vinte e cinco anos. Já não interessava. Já nada interessava. Faziam sempre com ela por baixo, enquanto lia um livro. Tinha acabado bibliografias completas assim. “Demorei três quilómetros de pila a ler o último da Isabel Allende”. Costumava dizer às amigas. Deixava-o aviar-se para não levar nos cornos. Já nem o entrançava com as pernas. Deixava-se ficar. Quando ele se vinha, depois de ofegar alarvemente em cima dela e dizer “coisa boooa”, deixava-o escorregar para o lado e sentia-lhe o pénis húmido e curto na perna e esperava que começasse a ressonar para, depois, se deitar de lado. Apertava bem as pernas até se ouvir *prfft* e sentir o esperma quente a escorregar-lhe da reganheira para cima da cama. Contava até duzentos. Ou melhor, duas vezes até cem. Porque até duzentos perdia-se. Duzentos era o tempo que demorava até embeber os lençóis. De manhã estava seco e gostava de fazer estalar o lençol, como se fosse aquelas bolinhas de plástico que vêm nas encomendas de coisas da tecnologia e que as pessoas gostam muito de estalar, ou de raspar com a unha e tirar bocados inteiros que depois deixava cair no chão de tijoleira onde fazia *criic*. Já não se levantava para ir lavar. Nem mesmo com um lenço. De manhã saíria o resto. Quando fizesse força para cagar. Sempre de manhã, a seguir às torradas com doce de abóbora que a mãe lhe enviava todos os verões da terra (o doce, não as torradas). Cagava bolinhas que pareciam cachos de uvas siamesas e faziam *ploc* ao cair na sanita. Chorava e costumava lembrar-se de quando eram felizes. Quando saíam todas as noites para ir beber um bagaço e uma meia de leite, a seguir ao jantar, ao café do Antunes. Como o senhor Eduardo lhe apertava a celulite por cima das calças de fato de treino e lhe metia um dedo no cu, na frente do balcão, enquanto pedia. “Era um bagaço e uma meia de leite aqui para a madama”. E usava esse mesmo dedo, porque tinha aderência, para tirar a nota de quinhentos do elástico com que pagava. Sentia uma comichão lá em baixo. E esperava ansiosamente que voltassem para casa para fazerem o amor. Quando ainda não tinha lavado os dentes, faziam o amor com a boca, como lhe chamava. E cuspia esse amor para o penico por esvaziar, já de vários dias. O cheiro a urina acalmava-a e desentupia-lhe o nariz. Às vezes, deixava que lhe fosse ao cu. Mas nunca se vinha lá dentro porque não queriam um filho preto. Às primeiras sextas de cada mês, iam jantar um bitoque e uma garrafa de Casal do Verniz. O senhor Eduardo gostava de molhar a carcaça no molho que ficava no prato. Na brincadeira dizia, “ó Antunes, pode já metê-lo de novo no armário”. Pagava duzentos mérreis por um whisky novo e dizia sempre “que granda pomada que aqui tem, ó amigo Antunes”. Sabiam que eram feitos um para o outro porque não tinham os dois o mesmo dente a seguir ao canino, em cima. Dava para prender o cigarro ou o lápis enquanto faziam, juntos, a contabilidade do café da escola. “Setecentos mérreis e vão dois, com nove faz vinte e quatro”. Desde que fazia sandes de ovo na frigideira redonda dos bifes grandes “como os meus”, dizia a senhora senhor Eduardo, na brincadeira antes de bater “lá em baixo” com a mão aberta e fazer *flop flop flop*, que o lucro tinha vindo a aumentar. Cada oveleta dava para catorze sandes. Ou, como o meu avô gostava de dizer “oito e sete é catorze ou quatorze?”. Era quinze. Dava sempre para rir um pouco. Pelo menos até a minha avó ter outro AVC durante o jantar e termos de ir buscar os cabos de carregar a bateria para pô-la de volta connosco. Catorze sandes porque as dos cantos só davam para uma. Se é que uma frigideira redonda tem cantos. Mas não tinha pensado nisso até este ponto e não me parece boa ideia voltar atrás com isto tudo. Até porque é menos um parágrafo e isto de ter ideias assim não é todos os dias e não me quero sentir outra vez vazio como os tomates de um preto depois de se vir durante um gang rape. Gang rape é redundância. Toda a gente sabe que os pretos, quando se vêm, é durante violações em grupo e a fazer “fffffáaaaaaaaaa” com os lábios gigantes onde tropeçam com os ténis de jogar o basket a feder a chulé.
O senhor Eduardo era boa pessoa. Tinha princípios. Limpava sempre a unha do dedo pequeno depois de dividir a oveleta em catorze. O seu pequeno canivete suíço, como gostava de dizer, na brincadeira. Com um palito e uma cotonete com acetona. Aparava também as peles do dedo do meio (“o dedo da Maria”) com um corta-unhas com o galo de Barcelos para não arranhar. Costumava cheirar por baixo da unha, quando tinha saudades. O cheiro a cona e a alho são dos mais difíceis de tirar. Dos dedos, pelo menos. Eu sei porque meto sempre alhos em tudo e depois passo o dia a cheirar. E, quando guiava a seguir a um finger fuck (para aí em 1995 ou 1996), fazia-o sempre de mãos abertas e dedos esticados porque, muitas vezes, o carro não era só meu e eu também sou um tipo com princípios e, das duas uma, ou tocava só assim por cima das cuecas sem fazer muito *schloc* *schloc* ou se metesse assim até aos nós, passaria sempre as mãos pela água do repuxo dos limpa-pára-brisas. Era um homem pacato, amigo do seu amigo. Com um emprego honesto que contava passar ao filho. “Eduardo e filho, sandes de ovo” ou “Eduardo das sandes de ovo e filho”. Ainda estava por decidir. Gostava mais do segundo. Mas o primeiro dava mais ênfase ao filho. E toda a gente sabe que a família é o que mais importa. A família e os valores e essas cenas.
Foi um choque quando aconteceu. Quando o vieram buscar. Ainda tapou a cabeça com o casaco de ganga. Como via na televisão sempre que iam buscar um violador. Mas isso destapou-lhe a camisola que dizia “Eduardo das sandes de ovo”. E toda a gente pôde ver quem era. A sogra disse logo “ele a mim nunca enganou”. Como se soubesse que seria este o seu fim.
O julgamento foi curto. O senhor Eduardo ainda se defendeu. Mas frases como “ela gostou” e “alguém tinha de ser o primeiro” não caíram bem na sala. Não mostrou nunca arrependimento. Acabou por se suicidar com seis facadas no peito. Duas delas no coração. O seu café da escola fechou. Agora só se podia comer na máquina. Joaninha foi para a universidade. Tirou um curso qualquer daqueles que não dão para nada e sempre que levava no cu recordava-se do sabor das sandes de ovo do senhor Eduardo. Nunca lhe tinha querido mal.
À senhora senhor Eduardo já não restava nada. Estava velha e enrugada do sol dos verões que passavam no avançado da cunhada na Costa da Caparica. Tinha comprado o amor em plástico. Mas no fim chorava sempre. Sentia falta do seu Eduardo. Sentia falta do seu esperma quente a pingar-lhe da cova do amor.
sexta-feira, 13 de junho de 2008
sexual sportswear
Quando vejo aqueles anúncios a detergentes para a roupa em que se vê um zoom das ceninhas de detergente a passar pelas fibras do tecido, não consigo deixar de pensar "este detergente é mesmo bom".
quinta-feira, 12 de junho de 2008
rocking in gmail
pedro:
estive a ouvir rádio agora
no algarve já não há gasóleo
e até ao final do dia conta-se não haver gasolina
em lisboa
me:
os meus pais vão para o algarve
mas o meu pai ja deve ter atesado
isto foi o pior typo de sempre:\
estive a ouvir rádio agora
no algarve já não há gasóleo
e até ao final do dia conta-se não haver gasolina
em lisboa
me:
os meus pais vão para o algarve
mas o meu pai ja deve ter atesado
isto foi o pior typo de sempre:\
segunda-feira, 9 de junho de 2008
tiger phone card
Eu: "Quando me querem bater, reajo como as gajas na cama".
Ele: "Como?"
Eu: "Na cara não, na cara não".
Ele: "Como?"
Eu: "Na cara não, na cara não".
laugh track
Se és bom com malas, és bom a mamá-las.
sábado, 7 de junho de 2008
desert diamonds
Por mim podem subir o preço da gasolina à vontade. Eu cá continuarei a meter sempre 20 euros.
sexta-feira, 6 de junho de 2008
something fast
Este post é só para o anterior não ser o primeiro. E quem vier cá, pela primeira vez, não corra o risco de não voltar.
shock me
O único segredo que guardo mesmo bem guardado é que comia a Manuela Moura Guedes.
dawning
A vantagem de ter um amigo sem pernas é que ele nunca porá os sapatos sujos em cima do sofá novo.
let love in
Um tipo sem braços consegue brincar aos aviões pela casa toda.
that evil child
Emprestar os phones cheios de cera é como tirar as cuecas no ginásio e ter skidmarks.
duck season
Mandaram o Hélder Postiga para o Sporting para ver se nos ganham, os cabrões.
hora extra #2
As desvantagens do futebol de cinco é que estamos em todas as jogadas que dão golo.
hora extra #1
As vantagens do futebol de cinco é que estamos em todas as jogadas que dão golo.
ouvido ao almoço
"Para veres vídeos tens de instalar o youtube".
terça-feira, 3 de junho de 2008
fuga em correria menor
Vou, neste momento, sair de casa para atestar o carro na Galp e foder o boicote. Mas faço-o de noite, como bom cobarde que sou.
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